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Revista da CAASP -Edição 18-

ESPECIAL \\ O comportamento das pessoas no Facebook, que tem 1,5 bilhão de integrantes no mundo, por exemplo, é difícil de ser generalizado, de acordo com o psiquiatra da Unifesp. “Há nuances da virtualidade que se impõem. Muitos aspectos do comportamento se perdem quando se escreve, diferentemente do que ocorre na interação presencial. Para quem é tímido, por exemplo, isso pode significar uma vantagem”, avalia. Normalmente, a maioria dos nossos “amigos” do Facebook não é composta por amigos de fato, amigos do convívio pessoal, mas serve para a massagem no ego que tanto nos faz bem. “Duzentas pessoas curtem ‘fui ao banheiro’, e a pessoa que postou pensa: ‘eu existo!”, ironiza Vieira Júnior. “É da nossa cultura querer ser visto, marcar presença, e a rede social serve como palanque. Quantas vezes você ‘curtiu’ de verdade? Semidesconhecidos estão curtindo coisas para serem curtidos em retribuição”, constata. Indivíduos que andam pela rua de smartphone em punho, a digitar, sem alterar o passo, não assustam o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior. “Para os jovens que nasceram neste paradigma atual, é tudo muito natural”, aceita. Políticos e jornalistas – “Os políticos perceberam a importância das redes sociais e sabem que deixar de participar delas será um ônus. Seus perfis acabam sendo fontes de opinião”, descreve o cientista político Nuno Coimbra Mesquita, coordenador do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (Nupps). De fato, quando um senador, um deputado ou um ministro posta uma frase qualquer no Twitter, às vezes sem a menor relevância factual, isso basta para estarem nas manchetes dos velhos jornais de papel no dia seguinte, comprovando a docilidade dos jornalistas de hoje, que invariavelmente “mordem a isca” lançada pelo político na rede social sem questionamento. WEB Mesquita: “perfis de politícos viram fontes de opinião” 18 // Revista da CAASP / Agosto 2015 Para o jornalista e escritor Luciano Martins Costa, que tem passagem por alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país, esse comportamento dos profissionais de imprensa “está ligado à prática do jornalismo declaratório. Muitos jornalistas perderam ou nunca tiveram capacidade ou interesse de investigar e contextualizar os fatos e se satisfazem em colher frases que provoquem outras frases, numa contínua rede de dizeres”. “As plataformas que os políticos usam para se comunicar, em princípio, são positivas – as figuras públicas devem expor suas opiniões à sociedade. Quanto aos jornalistas, se estiverem utilizando exclusivamente as redes sociais para obterem suas informações, estarão exercendo a profissão de forma limitada”, observa Nuno Mesquita. Quanto ao conteúdo postado pela classe política nas redes sociais, nada de novo. “Precisamos entender que o ambiente virtual não cria nada, apenas amplifica coisas que fazem parte do cotidiano. Político mentir, por exemplo, não é exatamente uma exclusividade das redes sociais”, salienta Nuno Coimbra Mesquita.


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