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Revista da CAASP -Edição 17

ENTREVISTA \\ “Houve no Brasil uma apropriação do Estado pelas elites” Maria Alice Setúbal, a Neca, pode ser considerada um peixe fora d’água, pelo menos das águas nas quais nadam seus familiares e outras personalidades do topo da pirâmide social brasileira. Filha de Olavo e Tide Setúbal, portanto herdeira do Banco Itaú, nunca trabalhou nas organizações financeiras da família. Preferiu estudar Ciências Sociais e dedicar-se a questões inerentes à base da pirâmide. Acionista de empresas que costumam efetuar doações milionárias para campanhas eleitorais, ela defende o modelo misto de financiamento eleitoral, em que os recursos fornecidos pelo setor privado tenham limite, mas não descarta discutir o financiamento exclusivamente público, desde que este não favoreça os grandes partidos. Neca ganhou projeção como coordenadora da campanha de Marina Silva à Presidência da República. Tentaram pespegar nela o rótulo de representante do poderio econômico que nortearia um eventual governo Marina. Mas é difícil classificar como tal uma pessoa que quer debater a taxação de grandes fortunas, que reconhece no Brasil “a apropriação das coisas do Estado pelas elites”, que admira Paulo Freire e que aponta “a vulnerabilidade social das periferias”. Presidente dos conselhos do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária) e da Fundação Tide Setúbal, Neca concedeu a entrevista a seguir ao editor da Revista da CAASP, Paulo Henrique Arantes. Revista da CAASP - Por que razão Marina Silva ficou fora do segundo turno da eleição presidencial? Maria Alice Setúbal - É uma pergunta difícil. Naquele momento, a Marina sofreu uma grande desconstrução. Foi uma campanha muito agressiva, e nós tínhamos dois minutos de televisão contra 13 minutos da Dilma e oito minutos do Aécio. Além disso, acho que especialmente a Dilma tinha uma estrutura enorme, incomparável com a nossa. Nós não tínhamos tempo para pautar as propostas do nosso programa de governo. Você concorda com a afirmação de que a presidente Dilma cometeu um estelionato eleitoral, tendo em vista o que pregou na campanha e o que está realizando no início do governo? Talvez estelionato seja um termo muito forte, mas com certeza ela mentiu. Ela prometeu, e passava todo dia na televisão, um país colorido, maravilhoso, sem problemas, só com grandes feitos e grandes números e realizações. E criticava todas as medidas que de alguma forma estavam colocadas tanto 8 // Revista da CAASP / Junho 2015


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