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Revista da CAASP -Edição 17

Arquivo D. D. A Parto do Princípio representou ao Ministério Público Federal contra os planos de saúde e obteve, em janeiro de 2015, uma vitória. A Associação Nacional de Saúde Suplementar publicou uma portaria que obriga médicos e hospitais a justificarem tecnicamente a cesariana. É a primeira vez que se tenta colocar regras nesse tipo de serviço médico. Para Déborah, a cesariana é conveniente para o médico, não para a paciente nem para o bebê. “Para as mulheres, aumenta o risco de infecção pós-operatória e de hemorragia e também pode gerar problema para gestações futuras. No caso dos bebês, as cesarianas aumentam o risco da Déborah: “A cesariana aumenta o risco de prematuridade. Algumas vezes, quando o bebê é tirado do infecção e hemorragia” útero da mãe, se descobre que é prematuro”, afirma. Déborah teve uma filha, que nasceu de cesariana. “Eu queria o parto normal, mas, durante o trabalho de parto, o médico decidiu pela cesariana”, afirma. Para ela, foi uma frustação. Alguns anos mais tarde, soube que era esse o sentimento de muitas outras mulheres. Elas começaram a trocar mensagens através de listas de e-mail, o movimento cresceu e, em 2006, nasceu a Parto do Princípio. Muita gente que critica o ativismo em favor da maternidade natural diz que essas mulheres querem uma volta ao passado, quando a maioria das pessoas nascia com a assistência de uma parteira. “Não é volta ao passado coisa nenhuma. Isso é uma falácia. Queremos apenas utilizar os recursos hoje existentes em favor das mulheres. É preciso respeitar a fisiologia delas e fazer o parto quando houver evidências de que a hora do nascimento chegou”, comenta. Para isso, as mulheres da Parto do Princípio entendem que é necessário incentivar um tipo de organização em que sejam reconhecidos outros ambientes de parto, não só a maternidade hospitalar. O parto domiciliar, muito comum na Holanda, no Brasil é quase uma prática clandestina. Punição fora dos hospitais O Conselho Regional de Medicina de São Paulo adotou uma resolução que ameaça punir médicos que assistirem o parto domiciliar. Por causa disso, o obstetra Jorge Kuhn quase perdeu o seu registro. Ele fez mais de 100 partos domiciliares e, depois de uma entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, em que defendeu o parto fora dos hospitais, sofreu uma representação no Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Em defesa do médico, as mulheres foram à Avenida Paulista protestar. Com faixas em favor do parto normal e em apoio a Jorge Kuhn, elas conseguiram interditar uma faixa de trânsito e se transformaram nas primeiras mulheres a gritar palavras de ordem contra as cesarianas. A representação contra o obstetra Jorge Kuhn acabou arquivada. Além do parto domiciliar, esse grupo de mulheres, cada vez mais numeroso, defende também a abertura e manutenção de casas de parto, a exemplo da que existe no Jardim São Luiz, em São Paulo, a Casa Ângela, que recebeu esse nome em homenagem à parteira alemã Angela Gehrke da Silva, que, entre 1983 e 1998, atendeu e amparou mais mulheres das favelas Monte Azul. Junho 2015 / Revista da CAASP // 27


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