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Revista da CAASP -Edição 17

SAÚDE \\ Arquivo Febrasgo A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia entende que o hospital ainda é o lugar mais seguro para o parto. Porém, já existe uma corrente que aceita a mudança de padrão, com a presença das obstetrizes ou das enfermeiras obstetras no apoio ao parto, cabendo ao médico o papel de retaguarda. O problema é que, segundo o presidente da Febrasgo, Etelvino Trindade, o número de obstetrizes é muito pequeno. Existe apenas um curso no Brasil, no campus da Universidade de São Paulo na Zona Leste. Até o final dos anos 70, a Medicina da USP, na Avenida Doutor Arnaldo, formava obstrizes, num curso paralelo ao da Medicina. O curso foi fechado, e a formação de obstetrícia passou a ser exclusiva do médico. As faculdades ainda formam a enfermeira obstetra, mas seu papel passou a ser cada vez mais de suporte à equipe médica. Trindade reconhece que o modelo está errado. “Ninguém está safisfeito – nem médico, nem hospital, pois caiu o número de leitos para maternidade, nem pacientes”, diz. Arquivo S. D. Simone: “nas condições atuais, o parto normal é uma violência” 28 // Revista da CAASP / Junho 2015 Trindade: “ninguém está satisfeito – nem médico, nem hospital” Por causa disso e da resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar, os hospitais começam a implantar novos modelos. Em Jaboticabal, criou-se um sistema para incentivar o parto normal. Deu certo. Em Americana, outro hospital implanta modelo semelhante, e o Albert Einstein, em São Paulo, começou a preparar uma ala onde haja recursos para o parto normal. Mas, para o modelo seguir adiante, é preciso um número maior de obstetrizes. Se existem 22 mil médicos obstetras no País, seriam necessárias pelo menos 76 mil obstetrizes – na conta da Febrasgo, seriam três obstetrizes para cada médico. Nesses casos, o médico voltaria a ser um profissional de plantão, chamado apenas no caso de emergência. Para as mulheres da Parto do Princípio, mesmo no plantão, o parto ainda continua sendo um assunto em que a última palavra é dada pelo médico. “Médico é muito importante, mas o que nós queremos é que o foco seja a mulher, não o médico. O protagonismo não seja o de um profissional que veja no assistido alguém a quem se deva socorrer, corrigir um problema. Parto não é problema. Talvez o corporativismo seja o maior problema”, afirma. O que tanto médicos quanto mulheres querem é o bem estar das gestantes e dos bebês. Quando se sabe que a Organização Mundial de Saúde aceita como razoável o índice de 15% de cesarianas, mas no Brasil essa taxa é de mais de 55%, é evidente que há algo muito errado. A radiografia do modelo revela um sistema de saúde que adoeceu, mas este não é um caso apenas para o doutor resolver. “Nas condições atuais, o parto normal é uma violência, e a cesariana acaba sendo uma defesa da mulher contra esse ambiente hostil”, diz a médica Simone Diniz.


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