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Revista da CAASP -Edição 17

EENNTTRREEVVIISSTTAA 10 // Revista da CAASP / Junho 2015 \\ É predominante entre estudantes, principalmente das áreas de humanas, a postura de esquerda, contrária ao grande capital. Durante sua vida acadêmica, você sofreu preconceito dentro da universidade? Sofri, mas não foi nada muito grande. Sem dúvida havia uma pressão, mas as pessoas que estavam mais próximas, meu orientador, o grupo junto com meu orientador quando fiz mestrado, eram pessoas com as quais mantinha sempre um diálogo muito bom. Fale sobre sua experiência pessoal junto às populações carentes. O que você viu no passado e vê hoje no Brasil? Fotos Ricardo Bastos “Vivemos uma estagnação, com risco de retrocesso” Eu tenho uma história inicial mais ligada à educação, por conta de projetos que o Cenpec desenvolveu. Eu viajei muito pelo Brasil todo, houve projetos junto com o Unicef. Eu viajei muito, desde São Miguel da Cachoeira, na Amazônia - dormi em aldeia indígena - até pequenos municípios do interior do Ceará ou Pernambuco e também do Sul do país. Viajei muito vendo municípios muito pobres e às vezes com experiências de escolas muito boas, muito compromissadas, com muita garra política e comprometimento. Depois, a partir de 2005, junto com meus irmãos, mas sem relação com o banco, eu criei a Fundação Tide Setúbal, homenagem à minha mãe, e assumimos um trabalho de voluntariado na Zona Leste de São Paulo. Lá eu tive outro tipo de experiência, que foi a experiência de estar mais junto a uma população de alta vulnerabilidade social e atuar com foco no desenvolvimento local não só em educação, mas também em saúde, cultura, trabalho. De 2005 a 2011, quando eu estava muito presente em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, eu tive contato com as mais diferentes lideranças populares e comunitárias. Foi uma experiência riquíssima para mim. Eu consegui enxergar a partir da periferia. Eu conversei com líderes religiosos, comunitários, de futebol, de blocos de carnaval, de ONGs, de pastorais. Essa diversidade enorme me possibilitou ter um olhar muito mais próximo da realidade social do Brasil, principalmente a das periferias das grandes cidades. A população da Zona Leste paulistana vive melhor hoje do que há 10 anos, quando você começou esse trabalho? Sem dúvida, houve uma melhora significativa na vida da população. Especialmente entre alguns grupos, como os jovens, existe uma diferença muito grande no acesso aos meios digitais, no acesso ao ensino superior, que em 2005 não havia. No entanto, a periferia de São Miguel Paulista continua a apresentar alta vulnerabilidade social – não nos esqueçamos de que São Miguel, com 400 mil habitantes, tem centro e periferia.


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