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Revista da CAASP -Edição 17

Aqui vai uma pergunta que envolve economia, mas muito mais em sua face social. O Brasil vive uma crise econômica: recessão, perda relativa de poder aquisitivo, inflação persistente. Você acha que esta crise durará de sorte a eliminar os ganhos sociais dos últimos anos? Esta é a grande questão que preocupa os políticos e os técnicos ligados às políticas públicas. Acho que existe o risco de perda, pois tivemos muito pouco tempo de ascensão. Temos no momento uma estagnação, mas acho que existe o risco de retrocesso. Você já foi chamada de comunista por alguém da alta sociedade ou mesmo da sua família? Digamos que sim. Há pessoas que têm uma visão muito estreita, muito desconectada da realidade, e muita falta de informação também. Para esses, qualquer pessoa que tenha um olhar social, que queira trabalhar por uma maior igualdade social já é vista como comunista. Nada muito grave (risos). Você nunca foi adepta das colunas sociais. Para que elas servem? Junho 2015 / Revista da CAASP // 11 Não é que eu não sou adepta das colunas sociais... Você deve ser muito assediada por colunistas sociais. É que eu não frequento as festas, os locais, as vernissages que saem nas colunas sociais. Eu até sou amiga de pessoas que escrevem colunas sociais. Não é que eu não queira sair, é que eu não tenho o comportamento social dos colunáveis. Eu não faço parte desses grupos. Quem são os responsáveis históricos pela desigualdade brasileira? Eu acho que desde o início nós tivemos uma estrutura em que houve – bem na linha de “Os donos do Poder”, de Raymundo Faoro – uma falta de divisão entre as esferas pública e privada. Então, houve uma apropriação do Estado pelas elites. É complexo. A História do Brasil, desde o início com essa apropriação privada de terras públicas, da coisa pública, viveu também um processo muito forte de escravidão que marcou muito a sociedade – esse é outro fator fundamental para explicar a desigualdade. Você é a favor da taxação de grandes fortunas? Esse mecanismo – é claro que não sozinho – promove igualdade social? Eu acho que é um tema que tem de ser discutido. A questão de uma taxação progressiva, a inversão da lógica da taxação, fez parte da campanha da Marina. Esta é uma discussão que a sociedade tem que fazer, o tema tem que entrar no debate. Mas a taxação do grande capital sempre foi bloqueada no Congresso, não? Se não me engano, os projetos nesse sentido nunca chegaram a plenário. É difícil, porque há muitos interesses que vão vetando a discussão. Mas tem vários projetos dessa linha na Câmara, inclusive do PT. É um tema que tem de ser debatido.


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