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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

EENNTTRREEVVIISSTTAA 10 // Revista da CAASP / Abril 2015 \\ perseguido” (risos) –, na verdade, os russos se sentiram perseguidos, acuados, e no ano passado, quando houve aquela ofensiva para derrubar o governo da Ucrânia, aconteceu com a Rússia aquilo que o Jânio Quadros dizia. O Jânio, que era mato-grossense, gostava de repetir o seguinte provérbio: “não se deve chuçar onça com vara curta”. Eles chuçaram o Putin, achando que ele não ia fazer nada, e ele deu o bote. Mas o clima pode ser considerado como sinalização de uma nova Guerra Fria? Eu não acredito que seja uma segunda Guerra Fria, pelo menos em relação à Rússia. A primeira Guerra Fria ocorreu porque a Rússia encarnava na época uma ideologia universal, que era o comunismo e que tinha aliados e simpatizantes em todo o mundo. Hoje, não. Hoje o que a Rússia tem é um regime nacionalista que termina na sua fronteira. Fotos Ricardo Bastos “A abordagem americana do terrorismo disseminou o fenômeno” O que eu diria a você, isto sim, é que o que tomou o lugar do comunismo como o grande fator a dividir e prorrogar conflitos é o islamismo fundamentalista. Hoje em dia não se pode minimizar o fato de que há um arco de crises que começa no Afeganistão, passa pelo Paquistão, passa em seguida pelo Iraque, pela Síria, pelo Líbano, que está sempre afetado por grandes explosões, depois vai passar pela África. O Egito, que parecia ir para a democracia com a Primavera Árabe, sofreu agora um retrocesso total, uma ditadura militar com grande enfrentamento. Depois, afeta a Somália, o Sudão, o Quênia. Afeta a Nigéria com o Boko Haram, e está se espalhando. A cada dia que passa, países em que há cinco anos nem se falava disso estão entrando nessa fase de conflito. Isso é um problema grave. É preciso não esquecer do seguinte: o comunismo tinha não só o foco na União Soviética, mas em toda parte ele tinha seus partidários. O fundamentalismo islâmico também. Com exceção do Brasil e da América Latina, o único continente onde não há uma presença islâmica expressiva, os muçulmanos estão em toda parte, e no meio dos muçulmanos, em geral pacíficos, há sempre uma minoria radicalizada. Veja: na França há 6,5 milhões de muçulmanos; na Inglaterra é quase igual; na Alemanha são 4,5 milhões de turcos muçulmanos. Então, os muçulmanos estão presentes em toda parte. Você veja este caso do Charlie Hebdo: foram dois muçulmanos nascidos na França. Está se cumprindo uma profecia que foi feita em 2001, de que a Al Qaeda, ao contrário do que pensavam os americanos, era uma espécie de sociedade anônima, um conglomerado de movimentos com vínculo muito tênue entre si. Muitos desses movimentos de Guerra Santa nem são ligados à Al Qaeda, mas sim a outros movimentos. Basta você ter duas pessoas treinadas e decididas, como esses dois irmãos, com um pouco de apoio, que eles fazem um estrago gigantesco. Esse tipo de fenômeno não se combate com o exército. Não adianta ter um porta-aviões, porque essa gente está por aí. Nós aqui não apreciamos muito a gravidade do problema, pois na América Latina


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