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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

somos uma exceção. Até na Rússia tem esse problema, na Chechênia e no Cáucaso, onde são todos muçulmanos. A China tem a região dos uigures, que são muçulmanos também. Como lidar com esse desafio do Islão radical? Isso não está equacionado, é um problema grave. Para sintetizar isso tudo, eu diria que aquele sistema bipolar Estados Unidos – União Soviética era ruim, mas de certa maneira controlava os conflitos, pois não se queria chegar a uma guerra aniquiladora. Hoje em dia, com a evolução para o multipolarismo, muita gente aplaudiu achando que esse multipolarismo em si era uma coisa boa. O que essas pessoas esqueceram é que o multipolarismo é exatamente o sistema que levou à Primeira e à Segunda Guerras Mundiais. Abril 2015 / Revista da CAASP // 11 O senhor está afirmando que a Guerra Fria impediu conflitos? De certa forma, ela controlou, porque era tudo mais previsível. Hoje, é imprevisível, e isso cria uma insegurança muito grande. Eu diria a você que é isso que caracteriza o começo do Século XXI – um multipolarismo. Embora os Estados Unidos ainda sejam a potência predominante, eles já se estenderam demais, querem agora ser mais seletivos, estão se retirando de alguns lugares. Com isso, há muito campo para surgir desafios novos, e em muitos lugares. O que significa a atual aproximação entre Estados Unidos e Cuba? É positiva, mas de efeito modesto. Como Cuba não é um país de grande importância, a aproximação é positiva mais como a liquidação de uma fatura herdada do passado. É como se você tivesse uma dívida antiga que não conseguia resolver porque não estava de acordo sobre o montante, os juros, e a uma certa hora você consegue pagar essa dívida, mas isso não vai mudar sua perspectiva em outras coisas. Foi uma coisa positiva, mas modesta, portanto. Cuba deixou de ter importância há muito tempo, hoje luta por sua própria sobrevivência. Ela deixou de se meter nos assuntos dos países latinos, o próprio Fidel Castro está no fim da vida. O comunismo acabou, hoje em dia não passa de uma nostalgia. Quando a sigla Bric foi criada, os países que a formavam demonstravam pujança, até o ponto de se vislumbrar para breve a superação econômica das potencias tradicionais. Por que essa sensação arrefeceu, apesar da criação do Banco dos Brics e de outras iniciativas? Porque no início se imaginou que esse grupo ia ser capaz de ter uma atuação internacional conjunta, que pudesse ter um impacto na chamada governança global, isto é, na dificuldade que nós vivemos hoje de ter instituições para enfrentar desafios que, pela natureza, são globais, como a crise financeira ou o aquecimento global. Nós, até hoje, não temos tido instituições capazes de resolver isso. Por exemplo, no caso da crise financeira, o Fundo Monetário não só não a previu como de certa forma até contribuiu para a crise, pois durante mundo tempo apoiava a globalização financeira, a redução dos controles. Quando veio a crise, o papel do Fundo Monetário foi modesto, tanto na sua superação quanto, o que é mais grave, na busca de reformas para que ela não se repita.


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