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Revista da CAASP -Edição 14 - Final - 6

O debate econômico, aliás, proporcionou alguns momentos interessantes durante a campanha eleitoral. Anunciado como futuro ministro da Fazenda caso o vencedor do pleito fosse Aécio Neves, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga foi demonizado por sua ortodoxia financeira e seu apego à rigidez fiscal. A época em que elevou os juros básicos a mais de 40% foi insistentemente lembrada pela candidata Dilma Rousseff, que, enfim, saiu-se vitoriosa. Mas o teatro eleitoral não demoraria a ser desnudado. Em novembro, a presidente da República anunciaria Joaquim Levy como ministro da Fazenda de seu segundo mandato. Trata-se de um quadro respeitado, profissional que deixou a marca da competência em todos os lugares por onde passou. Prova disso é que foi secretário-adjunto de Política Econômica no governo Fernando Henrique Cardoso e secretário do Tesouro no governo Lula. Ocorre que o perfil de Levy é traçado à perfeita semelhança com o de Armínio Fraga no que diz respeito à linha econômica, muito próxima do neoliberalismo tão atacado pelos economistas do atual governo. O futuro ministro da Fazenda, que deixará o cargo de diretor-superintendente do Bradesco Asset Management, é doutor pela ultraortodoxa Universidade de Chicago e já prestou serviços ao Fundo Monetário Internacional. Atitudes contraditórias como essa é que nos fazem temer por 2015, é que nos fazem questionar as reais intenções daqueles que nos governam. A quem querem agradar? A quem querem enganar? Ao passo que desejamos êxito ao governo que começa em janeiro, não há como negar que ele nascerá sob o signo da incoerência. Um avanço histórico para o Brasil, contudo, pode vir do campo judicial. A Operação Lava Jato tem potencial – até mais que o mensalão – para tornar-se o marco da inflexão nas condutas corruptas que têm sido a tônica em contratos entre empreiteiras e estatais, entre a iniciativa privada e o Poder Público. A dimensão dos superfaturamentos e das propinas que enlameiam a Petrobrás, cujos contratos com as empreiteiras envolvidas na Lava Jato somam R$ 59 bilhões, apontam para uma corrupção talvez na casa do trilhão se tais práticas forem reproduzidas nas demais estatais federais e estaduais. Se a Operação Lava Jato concretizar-se como o pontapé inicial para o fim da promiscuidade entre empresas estatais e privadas, 2015 será um grande ano. É o que desejamos. Fábio Romeu Canton Filho Dezembro 2014 / Revista da CAASP // 7


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