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Revista da CAASP -Edição 14 - Final - 6

Em outros momentos, o filósofo alega a virtude de seus comportamentos e os exalta. Em relação à acusação de corromper os moços, por exemplo, afirma que para eles pregava que “(...) não cuidassem tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma (...)”. Nessa passagem assevera aos juízes: “Por tudo isto, Atenienses, diria eu, ... quer me dispenseis, quer não, não hei de fazer outra coisa, ainda que tenha de morrer muitas vezes.” A mais alta declaração de independência, de altivez e de ironia de Sócrates perante seus julgadores vem após a decisão do tribunal. Já condenado à morte, cabe-lhe pela lei propor uma pena alternativa. Ele propõe aos atenienses, então, ser sustentado, à custa da cidade, no Pritaneu, local perto da Acrópole, onde com honras se nutriam os especiais beneméritos da pátria e ilustres hóspedes estrangeiros, o que seria mais adequado a ele “(...) do que a qualquer um de vós que haja vencido, nas Olimpíadas, uma corrida de cavalos, de bigas ou quadrigas. Portanto, se devo fazer uma proposta segundo a justiça, eis o que indico para mim: ser, a expensas do Estado, nutrido no Pritaneu”. Despidas de qualquer ironia, porém com a mesma convicção sobre sua inocência e virtude, destacam-se as palavras finais de seu discurso, quando, após falar aos juízes que o condenaram, Sócrates dirige-se aos juízes que o absolveram. Ele diz: “Só tenho um pedido que lhes faça: quando meus filhos crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos tormentos que eu os infligi, se achardes que eles estejam cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que não tenham, repreendei-os, como vos fiz eu, por não cuidarem do que devem e por suporem méritos, sem ter nenhum. Se vós o fizerdes, eu terei recebido de vós justiça; eu, e meus filhos também”. E, por fim, atestando mais uma vez sua serenidade perante a morte, ele se despede dos juízes com as seguintes palavras: “Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor rumo, se eu, se vós, é segredo para todos, menos para a divindade”. * Luiz Barros é escritor e jornalista. Dezembro 2014 / Revista da CAASP // 39


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