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Revista da CAASP -Edição 14 - Final - 6

A acusação Existem dois registros do julgamento de Sócrates escritos por seus contemporâneos, um por Platão, outro por Xenofonte. Apologia de Sócrates, de Platão, é o mais conhecido e interessante desses registros. Trata-se de um pequeno grande livro, de leitura indispensável. Considerado pelos historiadores um relato verossímil em relação aos costumes e às leis da época, a oratória socrática é vazada na bela prosa quase poética de Platão. Sócrates foi acusado de não aceitar os deuses da cidade, introduzindo novos cultos, e também de corromper a juventude: crimes a serem punidos com a morte por meio da ingestão de cicuta. Foram três os acusadores de Sócrates: Meleto, um poeta menor, cuja motivação parece ter sido a de chamar a atenção sobre sua pessoa; Lícon, que nutria certo ressentimento pessoal contra o filósofo; e Anito, um rico curtidor de couros, que por sua influência granjeava maior peso à acusação. Não muito tempo depois de seu julgamento e morte, uma estátua foi erigida em homenagem a Sócrates em Atenas, enquanto a sorte reservada a seus acusadores é bom indício de como a cidade, afinal, reagiu à condenação do filósofo – ou como o destino manifestou-se a respeito: Meleto foi condenado à morte, Anito foi exilado e apedrejado pelo povo, e Lícon suicidou-se. A defesa Apologia de Sócrates é, exatamente, o discurso de defesa do filósofo perante a assembleia ateniense, conforme a versão de Platão. Tendo contra si acusações que contemplam a pena de morte, Sócrates não defende sua vida em nenhum momento: antes dedica-se a defender seu pensamento. Trata-se de uma peça de oratória memorável, seja por sua organização lógica, seja por sua beleza. Ele se recusa a apresentar-se aos juízes, como era o costume, de forma lamuriosa, implorando por sua vida e trazendo sua família e filhos pequenos para fazer pena aos jurados. Diz que isto não seria digno de um homem de sua idade. Sócrates de início afirma ser odiado por parte de seus concidadãos e por parte do júri e, para explicar como isto veio a acontecer, conta que certa feita Querofonte, seu amigo, consultara o oráculo de Delfos para saber se havia alguém mais sábio que ele, Sócrates, e que a sacerdotisa Pítia, que formulava os oráculos, afirmara que não havia ninguém mais sábio. Dezembro 2014 / Revista da CAASP // 37 Platão: prosa quase poética


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