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Revista da CAASP - Edição 13

de grupo. A Associação Médica Brasileira então se opôs à medicina de grupo, porque tirava a possibilidade de o doente escolher o médico. Isso resultou nas Unimeds, as cooperativas médicas, que se espalharam pelo país inteiro, mas logo depois vieram os planos individuais e outros. A partir de 1988, quando nós fizemos a Constituição, dividimos os clientes em dois grupos – os que tinham plano de saúde e os que não tinham. Os que tinham planos de saúde passaram a utilizar hospitais que não atendiam os que não tinham, e com isso se verificou um deslocamento da liderança: a liderança que antes era feita nos hospitais públicos, nos hospitais universitários, passou para os hospitais privados. Hoje, quem comanda a medicina, quem incorpora a alta tecnologia, são os hospitais privados, tanto que as autoridades importantes, quando precisam, vão para hospitais privados. Mas há algumas “ilhas” públicas de qualidade, como o Incor (Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da USP), não? Há algumas “ilhas” públicas, certamente. O Incor, como você mencionou, o Dante Pazzanese, da Secretaria Estadual da Saúde, são “ilhas” de qualidade. São exceções. Agora, se você for ver o que eles fazem com excelência, os hospitais privados fazem também. O problema é o acesso. Nós criamos o seguinte problema: nós tínhamos doentes indigentes, previdenciários e privados. O que a Constituição de 88 fez foi acabar com o indigente: todos têm direito à saúde. Então, a responsabilidade do Estado foi extraordinariamente aumentada, e não houve o aumento correspondente de recursos. Restou uma deficiência importante, especialmente porque a partir de 1993 a Previdência Social deixou de por recursos na saúde. O modelo do SUS, no papel, é mundialmente elogiado. No Brasil, porém, quem quer desejar mal a alguém diz que vai mandá-lo para se tratar no SUS. Por que tamanha discrepância entre um sistema concebido corretamente e sua aplicação prática? Porque o SUS não tem o volume de recursos que a medicina privada tem, só por isso. Outubro 2014 / Revista da CAASP // 9 Além da falta de recursos, não ocorre má gestão, desvios, perdas? Quando você tem pouco recurso, fica difícil fazer uma gestão eficiente. Os gestores do sistema público que migram para a iniciativa privada têm mostrado um sucesso muito grande, o que mostra que, na verdade, a deficiência da gestão é deficiência de recurso, porque quando eles vêm para a iniciativa privada e passam a dispor de recursos, eles se mostram gestores altamente eficientes.


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