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Revista da CAASP - Edição 13

\\ EENNTTRREEVVIISSTTAA Mas o gestor público eleito - o presidente da República, o ministro da Saúde, o governador, o prefeito – têm comprometimento com a saúde? O político está preso ao orçamento, o qual não lhe permite destinar maior volume de recursos para a saúde. Como foram suas experiências como ministro da Saúde, primeiro no governo Collor, depois no governo FHC? O que o senhor conseguiu realizar? E o que o senhor tentou realizar mas não conseguiu? Fotos Ricardo Bastos No segundo período do governo Collor, quando ele estava mudando o Ministério, eu verifiquei o seguinte: naquela época, se internavam 10% da população, eram 14 ou 15 milhões de internados. Eu tive a ideia de olhar município por município. Tinha município que internava menos de 10% - São Paulo internava 6,2%, mas São Paulo tinha muito convênio, muito plano de saúde. Mas eu encontrei municípios que internavam 12%, 15%, 20%, 30%, 40%! Ora, é claro que isso era fraude. Então, eu fiz os secretários estaduais de Saúde checarem os números, para podermos então tomar uma providência. Foi quando sobreveio o impeachment do presidente. Então, eu não pude dar continuidade a isso. No governo Fernando Henrique, eu carregava a experiência daqueles dados. Então, fui buscar as razões, e a razão é que não havia críticas no sistema de processamento de contas. A conta era apresentada e era paga, permitindo que se fizessem prontuários fantasmas. Eu chamei meu secretário de Assistência à Saúde e ele colocou 135 críticas no sistema de processamento de contas. Por exemplo: uma broncopneumonia com alta curada em um dia? Não podia ser. Um grande queimado com alta curada em um dia? Impossível. Ou seja, nós começamos a colocar críticas no sistema de processamento de contas, estabelecer tempos de internação para determinada ocorrência – um paciente de colecistectomia não podia ter permanecido internado durante 20 dias! Na questão do financiamento, também no governo Fernando Henrique, o senhor lutou pela criação de um imposto exclusivo para a saúde. Como foi o trabalho que resultou no surgimento da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)? Nós sofríamos por falta de recursos, e eu tinha quatro objetivos principais. Um era erradicar o aedes aegypt, para eliminarmos a dengue; outro era reduzir os números da malária, que estavam em 600 mil por ano; o terceiro era reduzir à metade a mortalidade infantil; e o quarto era eliminar as fraudes e as irregularidades e, em consequência, revalorizar os procedimentos. 10 // Revista da CAASP / Outubro 2014 “É difícil uma gestão eficiente sem recursos”


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