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Revista da CAASP - Edição 13

\\ Sargento Getúlio ou a virtude da desobediência 44 // Revista da CAASP / Outubro 2014 Por Luiz Barros* João Ubaldo Ribeiro formou-se em Direito na Universidade Federal da Bahia, mas nunca chegou a trabalhar como advogado. Desde muito jovem iniciara-se no jornalismo, carreira que seguiu por toda a vida atuando em variadas funções em redações de jornais e revistas. Ao afastar-se do jornalismo diário, por décadas João Ubaldo publicou crônicas semanais em grandes jornais, João Ubaldo e sua obra: simbolicamente fortes e sempre irônicas e divertidas, além de críticas, pelo que literariamente complexos. se tornou um escritor bem conhecido dos leitores brasileiros, mesmo entre os que não leram seus romances. Membro da Academia Brasileira de Letras, dentre seus livros, Sargento Getúlio, de 1971, e Viva o Povo Brasileiro, de 1984, ambos vencedores do Prêmio Jabuti, o primeiro na categoria Autor Revelação e o segundo na categoria Melhor Romance, são obras-primas consagradas no rol dos clássicos da literatura brasileira. O êxito da publicação de Sargento Getúlio foi decisivo para o autor. Ubaldo tinha então 30 anos de idade e nutria dúvidas quanto à carreira de escritor; a boa receptividade do livro e a premiação firmaram-no definitivamente no rumo da escrita. Muitos consideram Sargento Getúlio o seu melhor livro. Curiosamente, antes de iniciar a narração, o autor explica ao leitor o sentido que atribui à obra, nos seguintes termos: “Nesta história, o Sargento Getúlio leva um preso de Paulo Afonso a Barra dos Coqueiros. É uma história de aretê”. Trata-se de uma inusitada epígrafe, propondo aos leitores uma vivência paradoxal, incitando-nos à tentativa de conciliar a aretê, a virtude e a excelência dos heróis na mitologia grega, com uma brutal história de jagunços, narrada em monólogo pelo sanguinário sargento. Mas sua proposta parece ter convencido os críticos e arrebatado leitores. Pela linguagem e pela temática, Sargento Getúlio foi considerado obra representativa do romance moderno regionalista, e, numa exaltação ao jovem escritor, não tardou a crítica a consagrá-lo, associando-o à literatura de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.


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