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Revista da CAASP - Edição 13

Jean Louis Mosser/EC Profissionais atuando na África: material é incinerado depois do uso. Outubro 2014 / Revista da CAASP // 33 // O drama africano “O maior desafio é tentar oferecer o melhor tratamento com poucos recursos. É muito difícil lidar com os pacientes com tantas limitações. Limitação de trabalhar fora de uma estrutura hospitalar; limitação de tempo junto ao paciente, porque não conseguimos permanecer muito tempo com a roupa de proteção, que é muito quente (a temperatura interna chega a 46º e o tempo médio que o profissional pode ficar paramentado é 45 minutos); limitação de estrutura para fazer exames laboratoriais”, explica o médico Paulo Reis, da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), que ajudou a tratar vítimas de ebola na Guiné, entre março e maio, e em Serra Leoa, em julho. “Na Guiné, como havia poucos casos, era possível trabalhar em diversas frentes, realizando diferentes atividades, como procurar casos suspeitos e sensibilizar a população. Quando cheguei a Serra Leoa, o surto tinha se espalhado e o desafio era ter profissionais em número suficiente para atender a todos. Tivemos que nos concentrar no centro de tratamento e não pudemos fazer a parte de procurar pacientes”, descreve. Os profissionais responsáveis pelo tratamento dos pacientes com Ebola são protegidos com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que incluem macacão de segurança, capuz, óculos de proteção, botas, um avental e duas luvas em cada mão. Boa parte desse material é incinerada depois de utilizada, assim como macas, estetoscópios, aparelhos de medir pressão e termômetros. “Em geral, a gente usa um termômetro por paciente, e com uma cobertura descartável de plástico. Vai trocando o plástico e queima o termômetro quando o paciente for embora. Mas temos que ser realistas: pode não haver termômetros suficientes e, nesse caso, temos que colocá-los no cloro e deixa-los secar no sol para usar com o próximo paciente”, ressalva Paulo Reis. Os agentes de saúde envolvidos no combate ao Ebola enfrentam dificuldades para atuar nas regiões mais remotas da África Ocidental. Muitos nativos acreditam que são os médicos o responsáveis por espalhar a doença pelas comunidades, com a finalidade de coletar órgãos dos mortos.  Em determinados vilarejos, agentes sanitários chegaram a ser atacados.


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