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Revista da CAASP - Edição 13

SAÚDE \\ “Infelizmente, a população ainda não conhece a gente. A desconfiança é muito grande. Isso até irmos lá, conversar e explicar o que é a doença, o que acontece quando os sintomas aparecem, o que é feito com as pessoas dentro do centro de tratamento”, conta Reis. No começo de setembro, o médico embarcou pela segunda vez a Serra Leoa. A epidemia de Ebola está sendo sentida não só pelas pessoas infectadas, mas por toda a população africana. “Coincidentemente, os dois países que mais sofrem com esse surto, Serra Leoa e Libéria, têm IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) baixíssimo. Percebe-se, portanto, a deficiência desses países de fazerem controle e atenção de saúde de forma adequada. Há quem diga que o problema ainda está para atingir o ápice”, alerta Jessé Reis Alvez, do Emílio Ribas. O sistema de saúde dos países afetados está completamente saturado. Pessoas doentes por outros processos infecciosos não têm acesso a assistência médica, pois todos os recursos, humanos e materiais, estão sendo dedicados ao tratamento das vítimas do Ebola. Na tentativa de evitar a disseminação do vírus, os governos estão tomando medidas drásticas de isolamento da população, com toque de recolher e proibição de pedestres e veículos transitarem pelas ruas durante dias. Essas medidas têm levantado preocupação sobre uma potencial violação de direitos humanos. Além disso, fronteiras terrestres - quando não aéreas também - estão sendo fechadas desde julho, o que tem cortado rotas comerciais vitais para o comércio agrícola. Colheitas estão em risco e os preços dos produtos subiram, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, que não descarta a escassez de alimentos nos países africanos afetados nos próximos meses. Em alguns países têm cabido às equipes da ONU levar comida a vilarejos em quarentena. É muito provável que os países da África Ocidental afetados pelo Ebola tenham de recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para estabilizar sua economia. Os cálculos ainda estão sendo feitos, mas a estimativa de crescimento desses países é baixíssima para este ano. Na Libéria, país que vinha crescendo mais de 7% ao ano, projeta-se crescimento de 3,5%. Calcula-se a perda de US$ 30 milhões de receitas, uma quantia significativa para um país que tem um magro orçamento. 34 // Revista da CAASP / Outubro 2014 Laboratório improvisado na Guiné EM Lab/EC Folha Press


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