Page 13

Revista da CAASP - Edição 13

técnicas, com testes e geração de conhecimento. Então, a formação fica deficiente, este é o primeiro aspecto. Só que há muitos hospitais conveniados que não têm pronto-socorro, e na minha concepção é inconcebível um médico que não tenha experiência em pronto-socorro. Isso tem muito a ver com o avanço científico e tecnológico, porque ele afastou o médico doente. O médico hoje utiliza muito mais um arsenal de diagnóstico do que propriamente os conhecimentos sobre a história do doente, ele não tem tempo para conversar com o doente. Eu não sou contra o “Mais Médicos”, mas não o vejo como uma solução. É um remendo. E depois teve um viés muito interessante: no Brasil, pela legislação, o médico só pode exercer a profissão se tiver registro no Conselho Regional de Medicina. E os médicos que vieram do exterior não prestaram o exame para obtenção do registro. Isso é uma irregularidade. Eu não tenho nada contra médico estrangeiro. O problema é que Cuba fez um sistema interessante. A Escola Latino-Americana de Medicina dá conhecimentos para atendimento básico, primário, e muitos deles não têm autorização para exercer medicina plena em Cuba. Mas, de qualquer forma, eles exercem um papel importante em lugares aos quais médicos brasileiros não aceitam ir. Outubro 2014 / Revista da CAASP // 13 Não aceitam ir por quê? Como fazê-los ir? Nossa grande distorção é estarmos formando especialistas. O especialista não vai trabalhar com a população sem os recursos de diagnóstico, pois eles são treinados para fazer diagnóstico utilizando a moderna tecnologia. Nós estabelecemos a ideia de que o médico precisa fazer residência - a residência é uma maneira de formar especialistas. Ou seja, o que nós estamos formando são especialistas, que se diferenciam ainda na faculdade e só vão dar atenção àquilo que tem relação com a sua especialidade. Então, eles não têm condição de trabalhar na periferia, onde eles não têm diagnóstico, não têm suporte. Eu fui o responsável pela organização do Programa de Saúde da Família. O Henrique Santillo (ministro da Saúde durante o governo Itamar Franco) tinha criado um determinado número de médicos de família, como ele chamava, mas o médico trabalhava sozinho. O Alceni Guerra (primeiro ministro da Saúde durante o governo Collor) havia criado os agentes comunitários de saúde. Quando eu cheguei (governo Fernando Henrique), havia duas enfermeiras que coordenavam o programa de agentes comunitários que vieram falar comigo. Elas vieram me propor juntar os médicos de família com os agentes comunitários, criando o Programa de Saúde da Família. Eu disse: esse é o modelo! Chamei o programa para o meu gabinete. E nós implantamos o Programa de Saúde da Família. O pessoal dizia que o PSF era para municípios longínquos no interior do país. Eu dizia: está errado, o PSF é para as populações das periferias das grandes cidades, porque eu tinha uma grande experiência de quando fui secretário. E eu vim falar com o então prefeito Paulo Maluf, que tinha criado o PAS (Plano de


Revista da CAASP - Edição 13
To see the actual publication please follow the link above