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Revista da CAASP - Edição 13

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Nós chegamos a fazer um projeto para a erradicação do aedes aegypt. Isso era possível, pois não havia nem mil municípios com ocorrência dele. Eu convoquei mais de 40 especialistas e infectologistas, e foi feito um plano que estabelecia o seguinte princípio: não adianta combater o mosquito município por município, nós temos que deflagrar um processo em todos os municípios em que ele exista, e fazer uma ação durante um ano, com toda mobilização possível de Forças Armadas, colégios etc, para atuar em cima do lixo, dos quintais, evitar águas paradas e tal. E depois de um ano de uma fase ataque, passaríamos a uma fase de manutenção. Isso iria consumir ao redor de 4 bilhões de reais – esse dinheiro não existia. Esta é uma das razões por que eu lutei pela CPMF. Na área de crianças, nós conseguimos um resultado muito satisfatório: diminuímos significativamente o percentual de gestantes entre mulheres em idade fértil. Criamos os Hospitais Amigos da Criança. Outra coisa que nós conseguimos e que teve efeito duradouro foi um empréstimo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Banco Mundial, negociado em conjunto. Em pouco mais de nove meses conseguimos 950 milhões de dólares sem contrapartida nacional, que constituiu o ReforSus. O ReforSus foi o único recurso para investimento que o governo Fernando Henrique teve durante seus oito anos. Nós tínhamos a ideia de terminar todas as obras principais que fossem necessárias, e o recurso para isso veio do Reforsus, que em boa parte foi usado pelo Mário Covas (então governador de São Paulo) para terminar os 19 hospitais que estavam em diferentes fases de construção em São Paulo. O que o senhor acha do programa “Mais Médicos”, do Governo Federal? Eu não critico e nem apoio. A situação é a seguinte: em 1996 nós tínhamos 82 faculdades de medicina; hoje nós temos 243. Quer dizer, de 1808 a 1986 fizemos 82 faculdades de medicina, e de 1986 para cá fizemos 161. Alguma coisa não está correta. E a distribuição das faculdades foi desigual. Eu defendi a ideia de que as faculdades colocadas em territórios adequados poderiam fixar e administrar os médicos. Ou seja, as faculdades seriam envolvidas na assistência à saúde. Dessas faculdades novas, 70% são privadas e a grande maioria nunca teve qualquer atuação na área da saúde – não teve hospital, não teve ambulatório, não teve nada, e faz convênio com hospital público. O hospital público é diferente do hospital de ensino. O hospital público presta a assistência existente, o hospital de ensino tem outro compromisso: ele tem compromisso com o avanço, com novas 12 // Revista da CAASP / Outubro 2014 “O especialista não tem condições de trabalhar na periferia”


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