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Revista da CAASP - Edição 13

Quando eu fui buscar os recursos, eles não existiam. O orçamento do Ministério da Saúde não permitia fazer aquilo tudo. Naquela época, o Ministério pagava R$ 2,50 por uma consulta médica no SUS, que era uma coisa absolutamente ridícula – hoje está em torno de R$ 8,00, ou seja, continua ridículo. Bem, falei com o presidente e ele me disse para conversar com o Malan (Pedro Malan, então ministro da Fazenda), e o Malan me disse: “olha, nós vamos fazer uma reforma tributária, vamos reduzir as alíquotas, aumentar a base de arrecadação e vamos conseguir os recursos”. Eu disse que não podia esperar, que precisava tomar uma providência imediata. Aí eu pensei: o Plano Real foi feito em julho de 1994, nós estávamos em fevereiro de 1995. O IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira) havia sido extinto em dezembro, e não aconteceu nada, ele não prejudicou em nada a implantação do Plano Real. Eu disse: vou pegar o IPMF, transformá-lo em contribuição para poder vinculá-lo e não ter anualidade, e isso vai me ajudar um pouco. Mas era necessário que não mexessem no meu orçamento, porque se entrasse de um lado e saísse do outro não resolveria. Infelizmente, foi o que aconteceu. Foi uma dificuldade muito grande para conseguir a CPMF. Depois que eu consegui, retiraram do meu orçamento o valor correspondente à contribuição, o que inviabilizou o Ministério. Outubro 2014 / Revista da CAASP // 11 Por isso o senhor deixou o governo? Sim. Na época, eu falei com todos os partidos, fui várias vezes ao Congresso conversar com as bancadas. Duas pessoas com as quais eu insisti muito foram o Lula e o José Dirceu - e não consegui nada. Fiz duas reuniões com eles e não consegui nada, pois o PT fechou questão contra a CPMF. O único do PT que votou a favor da CPMF na Câmara dos Deputados foi o Eduardo Jorge (candidato a presidente da República pelo PV na última eleição presidencial), e ele foi suspenso pelo partido por um ano. Depois, quando no governo, o PT viria a brigar pela permanência da CPMF, e eu fui convidado a ajudá-lo – e eu fui! Mas, afinal, não conseguimos. A CPMF me expôs coisas inacreditáveis. Tão logo a contribuição foi estabelecida, proibiu-se o cruzamento com o Imposto de Renda. O Everaldo Maciel, que era o secretário da Receita Federal, fez o cruzamento só para verificar, e descobriu coisas inacreditáveis. Ele descobriu, por exemplo, que dos 100 maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago Imposto de Renda. Microempresas, que por definição não podiam gastar mais que um determinado valor por ano, gastavam de 100 a 150 milhões de reais por ano. Ou seja, a CPMF botou a claro a sonegação que existia no país, e eu desconfio que esse foi um motivo importante para que ela fosse tão combatida.


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