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Revista da CAASP -Edição 12_-

ENTREVISTA \\ “Só se vence o crime organizado mexendo no bolso da organização” Segundo o Fundo Monetário Internacional, o volume de dinheiro movimentado pelo crime organizado corresponde a cerca de 4% do PIB mundial. De acordo com a ONU, 400 bilhões de dólares são movimentados anualmente pelo narcotráfico. Já as redes de tráfico de pessoas, a maioria para prostituição, movimentam 13 bilhões de dólares por ano. Tanto as máfias – organizações criminosas de caráter transnacional, como as italianas Cosa Nostra, ‘Ndrangheta e Camorra –, quanto as pré-máfias, caso do brasileiro PCC, precisam ser exterminadas. Como fazê-lo? “Você só consegue combater o crime organizado mexendo no bolso, no caixa da organização. Vale dizer: desfalcando-a.” Quem afirma é Wálter Fanganiello Maierovitch, uma das maiores autoridades mundiais no tema. Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, ele fundou, preside e mantém heroica e abnegadamente o Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, nome alusivo ao célebre magistrado italiano dinamitado pela 8 // Revista da CAASP / Agosto 2014 Cosa Nostra em 1992. Assessor da União Europeia para assuntos relacionados ao crime organizado, Maierovitch é conhecido no Brasil pela independência com que escreve artigos para a revista Carta Capital e faz comentários para a rádio CBN. Secretário Nacional Antidrogas no Governo Fernando Henrique Cardoso, refere-se ao ex-presidente como “súcubo de Bill Clinton”. Lula também não escapa dele, assim como Joaquim Barbosa, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Nélson Jobim, Tarso Genro, Geraldo Alckmin... A seguir, leia entrevista concedida por Wálter Fanganiello Maierovitch ao editor da Revista da CAASP, Paulo Henrique Arantes. Revista da CAASP – O que vem a ser “crime organizado”? Wálter Fanganiello Maierovitch - Esta pergunta vem num momento em que o Papa Francisco acaba de excomungar todos os membros de organização criminosa que seguem o “padrão mafioso” – veja como é larga essa excomunhão. Depois disso, surgiram inúmeras perguntas sobre o eventual enquadramento, é claro que em termos religiosos, de políticos, do pessoal do mensalão etc. Essas perguntas vieram de pessoas que não perceberam que, no julgamento do mensalão, o ministro Celso de Mello, tendo em vista a denúncia, que falava em organização criminosa, observou não haver na legislação brasileira um tipo chamado “organização criminosa”. E de fato não há. Nós temos quadrilhas e bandos, e há cerca de dois anos temos um enquadramento para milícias. O Brasil está atrasado em termos de política criminal no que toca o fenômeno do crime organizado. Se pegarmos a legislação europeia e a Convenção de Palermo, que é o primeiro e único instrumento


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