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Revista da CAASP -Edição 12_-

A passagem se prestou a polêmicas. No Século XX, muitos estudiosos opinaram que Caminha estivesse pedindo ao rei emprego para o genro, o que deu pano para manga às teorias de que o nepotismo e a corrupção brasileiros fincavam estaca já no nascedouro da nação, conforme para isto serviria de prova tal citação da carta de Caminha a El Rey D. Manoel. No entanto, há outra interpretação, mais plausível, dando conta que o escrivão não solicitava ao rei um cargo e, sim, de fato requeria a El Rey que perdoasse o genro do desterro na ilha de São Tomé, onde cumpria pena por haver assassinado um padre. Em muitos casos, o desterro, inclusive podendo ser vitalício, era pena que apenas poderia ser comutada por meio de um perdão especial do rei, um indulto, sendo esse o sentido legal e jurídico da “graça especial” que em nome do genro o escrivão demandava ao soberano. Poucos meses depois, em reconhecimento aos serviços prestados à coroa, D. Manoel concedeu o perdão solicitado – ao saber que Pero Vaz de Caminha fora um dos portugueses mortos no ataque árabe-indiano à feitoria de Calecute. Tortuosa foi a trilha percorrida pela carta de Caminha de 1500 a nossos dias. Inicialmente Portugal guardou segredo do descobrimento do Brasil, sendo que D. Manoel apenas cerca de um ano depois, de passagem, mencionaria o fato em correspondência a seus sogros e rivais, os reis de Espanha; embora esses naturalmente tivessem meios de o saber por conta própria. De toda sorte, a carta de Pero Vaz de Caminha foi mandada a arquivo na Torre do Tombo, onde permaneceu esquecida por mais de duzentos e cinquenta anos, até 1773, tendo sido nesse ano copiada por ordem do guarda-mor da Torre, José Seabra da Silva. Essa cópia foi trazida ao Brasil na bagagem da família real, em 1808, e guardada no Arquivo do Rio de Janeiro, para em 1817 ser incluída pelo padre Aires do Casal na publicação Corografia Brasílica, um dos primeiros livros editados no Brasil. Porém, nessa oportunidade, o padre censurou o texto de Caminha, suprimindo trechos que, a seu critério, “ofendiam o decoro”, tal como a descrição detalhada da nudez das moças índias. No Século XX surgem várias edições da carta de Caminha, transcritas para o português moderno a partir do texto original. Tais versões podem ser encontradas na internet, sendo a versão de Jaime Cortezão, de 1943, uma das que se destacam. Rubem Braga, em 1981, também apresentou uma versão moderna do texto e esta pode ser encontrada em formato de livro. Agosto 2014 / Revista da CAASP // 45


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