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Revista da CAASP -Edição 12_-

\\ A Carta de Pero Vaz de Caminha Primeiro documento histórico brasileiro, a carta de Caminha a D. Manoel é uma preciosidade literária 44 // Revista da CAASP / Agosto 2014 Por Luiz Barros* Pero Vaz de Caminha fora designado para ser escrivão em Calecute, nas Índias, e para lá seguia na esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral, cuja missão era estabelecer no Oriente uma feitoria para servir de entreposto comercial. Quando essa armada, a maior até então organizada pelos portugueses, intencionalmente ou por acaso, veio dar às costas brasileiras, o achamento destas terras foi fato tão importante no contexto das disputas entre Portugal e Espanha balizadas pelo Tratado das Tordesilhas, que Cabral, após consultar todos os comandantes das naus de sua frota, ordenou que o navio capitaneado por Gaspar de Lemos, em que se carregavam os suprimentos da frota, retornasse a Lisboa para levar à corte a notícia do descobrimento. Mas não cabia a Pero Vaz de Caminha o dever de escrever ao rei, visto que não era ele o escrivão da armada; e se o fez, consta ter sido por própria iniciativa, como assevera já no início da missiva: “Posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães, escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar conta disto a Vossa Alteza, o melhor que puder, ainda que, para o bem contar e falar, o saiba fazer pior que todos”. Não obstante a cerimoniosa modéstia do escrivão, essa carta que não lhe fora encomendada nem era de sua competência escrever, escrita ao estilo de um diário, foi a que ficou para a história – por ser o mais brilhante documento do descobrimento, a “certidão de nascimento” do país, como já se disse – nosso primeiro documento histórico, nossa primeira peça literária, uma crônica memorável do primeiro olhar dos portugueses a nossa terra e nossa gente. Há quem diga que Caminha teria escrito ao rei apenas com vistas a, no fim do relato, pedir pelo genro ao soberano, nos seguintes termos: “E pois que, senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro – o que dela receberei em muita mercê”.


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