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Revista da CAASP -Edição 12_-

Chizzotti: ONG fundada por ele tornou-se referência no combate à corrupção Ricardo Bastos Agosto 2014 / Revista da CAASP // 27 A Amarribo e a força das ONGs “Se nós conseguíssemos derrotar a corrupção nos municípios, o que é mais fácil por se tratar de uma célula política menor, nós acabaríamos com a corrupção no Brasil”. A afirmação é de José Chizzotti. Há 15 anos ele fundou a Amarribo, Associação dos Amigos de Ribeirão Bonito, ao lado de conterrâneos da pequena cidade do interior paulista. Eram Chizzotti, que é advogado, mais um médico, um administrador de empresas, um economista, um contabilista e um engenheiro, todos cidadãos que, quando jovens, deixaram Ribeirão Bonito para alcançar o sucesso profissional na capital. A ideia era ajudar o município a desenvolver-se social, econômica e culturalmente, mas a realidade com que se depararam na cidade natal fez com que a Amarribo enveredasse pelo caminho da luta contra a corrupção. O êxito nessa empreitada, cujos passos iniciais são relatados a seguir, fez com que a entidade original crescesse e se tornasse a Amarribo Brasil, rede a reunir mais de 300 organizações não-governamentais de combate à corrupção e que representa a Transparência Internacional no país. Os integrantes da Amarribo descobriram, em 1999, que o então prefeito de Ribeirão Bonito, Francisco de Assis Queiróz, comprava combustível para a frota da Prefeitura de uma empresa de Minas Gerais, sendo que o posto em frente à sede do Executivo municipal vendia o produto mais barato. “Depois, ficamos sabendo da existência de um tanque na fazenda de um vereador em que eles punham metade da gasolina comprada pela Prefeitura, para abastecer os carros da família”, recorda Chizzotti. E não era tudo. “Eles contrataram um açougue de São Carlos para fornecer carne para a merenda das escolas municipais, e para tanto estabeleceram que a carne tinha de ser embalada a vácuo, coisa que os açougues de Ribeirão Bonito não tinham condições de fazer. A licitação já estava direcionada para o açougue de São Carlos. Eles comiam filé mignon e as crianças comiam carne de pescoço. Salsicha era comum na merenda escolar”. A ação da Amarribo foi exemplar e deve servir de guia aos que querem livrar-se de políticos corruptos. Primeiro, a entidade mostrou à população o que estava ocorrendo na cidade. Em seguida, entrou com pedido de instauração de inquérito civil público. “Fizemos requerimento ao Ministério Público, já citando os casos e fornecendo provas dos atos de corrupção, e o MP abriu processo de improbidade administrativa contra o prefeito. Ao mesmo tempo, entramos com processo pedindo a cassação dele à Câmara Municipal”, lembra Chizzotti. E o prefeito foi derrubado por impeachment. “No dia em que foi votada a cassação, havia mais de 2 mil pessoas em frente à Câmara”, recorda.


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