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Revista da CAASP - Edição 11 --

exemplos de 17 estados americanos e de países como Holanda e Israel, onde vigoram programas de fornecimento de maconha medicinal a pacientes com esclerose múltipla, ansiedade ou que sofram dos efeitos colaterais da quimioterapia. Considero frágeis tais argumentos e tenho sérias dúvidas quanto ao sucesso da liberalização nesses países. Além do que, a recomendação médica é restrita a uma parcela das substâncias químicas presentes na planta, as quais devem ser processadas e ministradas mediante rígidos critérios e em casos muito especiais. Transportando-nos de volta ao Brasil, imagino ainda mais difícil obter ganhos socioeconômicos por tornar a maconha legalizada. O governo se responsabilizaria pelo plantio, colheita, empacotamento e distribuição, com sua notável correção e eficiência? Ou a produção/ comercialização seria transferida à iniciativa privada? Os tributos incidentes sobre o consumo se tornariam fonte importante de receita para o governo? E os traficantes de hoje? Por certo largariam o crime e passariam a ser responsáveis trabalhadores. De todo modo, parece que o debate sobre a erva começa a se encaminhar após o advento uruguaio. Ainda mais nociva à saúde que a maconha, a devastadora cocaína, aspirada ou em sua forma mais cruel – em pedra, a ser queimada e fumada – também está na praça, ofertada abundantemente. O crack vicia de pronto e mata em pouco tempo. Antes disso, alija do convívio familiar e social, marginaliza, degrada. Alentada reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada no início de junho, demonstrou que 194 cidades paulistas têm “alto problema” decorrente do consumo de crack. Os guetos de dependentes antes restritos às metrópoles agora pipocam em pequenos e médios municípios do interior, na maioria dos quais a rede pública de saúde é deficitária e os profissionais não são preparados para cuidar desses pacientes. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz indicou que 0,8% da população brasileira usa crack regulamente. É isso mesmo: 1,6 milhão de brasileiros fumam crack! Em São Paulo, divergências filosóficas entre o Governo Federal e o Governo do Estado impedem o aprimoramento do tratamento dos dependentes. Enquanto o primeiro prefere a atenção domiciliar, com acompanhamento nos Centros de Atenção Psicossocial, o segundo opta por internações, às vezes compulsórias, em hospitais especializados e comunidades terapêuticas. O descompasso prejudica. Seria pedir demais que se chegasse a um denominador comum, como forma de fortalecer a luta contra essa droga tão cruel? Fábio Romeu Canton Filho Junho 2014 / Revista da CAASP // 7


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