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Revista da CAASP - Edição 11 --

O que o Temer me diria? “Vamos devagar, Simon, porque a situação está complicada.” O senhor tem afinidade com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha? Nunca tive nenhuma convivência com ele. Conheço sua atuação, sua capacidade de costura, mas nunca tive uma conversa maior com ele. O senhor se notabilizou, ao longo de sua carreira política, por uma postura inflexível contra a corrupção, mesmo quando envolvendo correligionários. Qual o maior caso de corrupção no Brasil desde o início da redemocratização até hoje? Não tenho dúvida de que é o mensalão. Foi um caso que envolveu muita gente, durante muito tempo. Felizmente, a população teve a oportunidade de ver desenrolar-se uma apuração da Polícia Federal - que é subordinada ao ministro da Justiça, que era do PT -, que foi à Procuradoria Geral da República - cujo procurador-geral também é indicado pelo presidente da República, do PT – e que chegou ao Supremo. Houve muito mérito nisso. A maioria dos ministros do Supremo tinha sido indicada por um presidente da República pertencente ao PT e fizeram um julgamento da maior importância. Os fatos ali apurados foram muito sérios. Nunca se tinha visto no Brasil, até então, um esquema de costura tão diabólico em termos de busca do mal. O senhor acha que o resultado final do julgamento do mensalão, as condenações, as penas, estão de acordo? O senhor está mais para Joaquim Barbosa ou para Luis Roberto Barroso? Eu estou mais para Joaquim Barbosa. O Joaquim ficou um ano e meio se esmiuçando no caso, e o Barroso chegou para votar. Eu vejo muito mais consistência no voto do Joaquim. No caso do presidente do Supremo, eu vejo o homem culto, competente, responsável, e vejo também o temperamental, o que acaba soando mal. Mas eu faço a distinção entre o cidadão, com sua história, seu estudo, e os seus equívocos de temperamento que às vezes acontecem.estou longe de dizer que já podemos colher resultados, mas há uma parte da polícia interessada nessa melhora. O senhor foi um dos expoentes da CPI do impeachment do presidente Fernando Collor e também integrou a CPI dos “Anões do Orçamento”. Os desfechos desses dois casos o satisfizeram? No caso do impeachment, nós tivemos força para levar adiante aquele debate. A comissão do impeachment era mal vista, a começar pelo Doutor Ulysses. Ele me procurou e disse assim: “Simon, está louco? Foi uma CPI que levou ao suicídio do Getúlio, e foi outra CPI que culminou nos acontecimentos que levaram à cassação do Jango. Nós levamos um tempo enorme para construir uma democracia, temos o primeiro presidente...”. Mas nós conduzimos a CPI com tal grandeza, com tal seriedade, com tal responsabilidade, que fizemos daquilo talvez um dos mais altos momentos do Congresso Nacional. O Congresso saiu-se muito bem na questão do impeachment. Junho 2014 / Revista da CAASP // 11


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