Page 21

Revista da CAASP - - - - Edição 08

bons, honestos, eficientes e representativos. Então, há um descompasso entre a forma como nós praticamos a atividade política e a forma como vemos a ação do Estado. O brasileiro enxerga o Estado de uma perspectiva monárquica. Ele diz que todo mundo é corrupto, prega voto nulo, prega o fechamento do Congresso, diz que não vale a pena participar, mas, nas suas relações privadas ele joga lixo na rua, fura o sinal vermelho, anda com o carro no acostamento, molha a mão do agente público, sonega impostos, corrompe o auditor fiscal. Nós cobramos do Estado relações éticas de eficiência e cidadania que nós não cultivamos nas nossas relações privadas. Numa democracia republicana, o Estado é mero espelho do que somos na média. Paulo Maluf, inúmeras vezes condenado pela Justiça por roubalheira, é deputado federal, foi eleito nas urnas. Estão aí o Sarney, o Jáder Barbalho, o Renan Calheiros, o Collor. Não foi um ditador que os colocou lá – esse é o Estado brasileiro. Então, nosso desafio é qualificar a sociedade brasileira para que ela se torne capacitada a eleger um Estado também mais qualificado. Neste país patrimonialista e monárquico que você descreveu, como se enquadra historicamente a eleição de um ex-operário para a Presidência da República? A eleição para presidente da República, primeiro, de um sociólogo (Fernando Henrique Cardoso); a eleição para presidente da República de um líder operário e retirante nordestino (Luiz Inácio Lula da Silva); e a eleição da primeira mulher para presidente da República no Brasil (Dilma Rousseff) são frutos maravilhosos, são grandes conquistas da democracia. Temos de comemorá-las, pois são sinais vitais da democracia que estamos praticando. Significa que nós estamos topando o desafio de fazer escolhas novas e às vezes surpreendentes. Se você levar em conta que este é um país patriarcal, machista e conservador, o fato de termos uma mulher na Presidência da República, quando os Estados Unidos, uma República com mais de 200 anos, nunca elegeu uma mulher, é um avanço enorme. Agora, eu acho que essa história precisa ser analisada de uma perspectiva mais ampla, ou seja, o grande mérito da democracia é testar todas as hipóteses. E o PT, que era um partido que se dizia honesto, ético, propunha um padrão de eficiência, quando foi testado saiu-se chamuscado, assim como o PSDB saiu-se chamuscado. Dezembro 2013 / Revista da CAASP // 21


Revista da CAASP - - - - Edição 08
To see the actual publication please follow the link above