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Revista da CAASP - - - - Edição 08

A Primeira República, dos fazendeiros, do “Café com Leite”, da política dos governadores, apresenta a mesma equação de poder da monarquia. É a mesma aristocracia rural, agora ex-escravagista, que continua a comandar o país. Onde antes havia um imperador passa a existir um presidente da República fazendeiro, apoiado pela aristocracia rural. Muda tudo em 1984. Não é á toa que passou a se chamar Nova República o regime criado a partir da Campanha das Diretas. O Brasil torna-se um país transformado, com menos analfabetos, com uma economia mais complexa – não mais exclusivamente agrária, mas também industrial e de negócios -, um país urbano e não mais rural, um país que se abre ao mundo e à competição internacional, um país oxigenado pelas ideias que chegam de fora, um país que não está mais preso às amarras da Guerra Fria. Nesse ambiente novo, os brasileiros vão para a rua e proclamam uma segunda República pedindo o direito de votar. Então nós fazemos uma Constituição republicana em 1988 e em 1993 realizamos um plebiscito curiosíssimo, em que somos chamados a dizer se o Brasil deveria ser uma Monarquia ou uma República – aliás, cumprindo uma promessa que Benjamin Constant fez da janela da casa de Deodoro na noite de 15 de novembro de 1889. Ou seja, o Brasil manteve-se como uma República provisória, a qual eu chamo de República monárquica, por 104 anos. Em 1993, nas urnas, pelo voto, o povo decidiu que o Brasil era uma República. De 1993 até hoje, o que nós estamos fazendo é discutir as regras do jogo republicano. Isto está no “bate-cabeça” em Brasília entre Supremo Tribunal Federal, Ministério Público, Congresso. Está também no debate na imprensa, nas redes sociais e nas manifestações de rua. No fundo, nós estamos perguntando: que Brasil é este? Quais são as instituições que nos espelham, que nos representam? Que instituições nós queremos? Nós nos reconhecemos nos partidos políticos que existem? As instituições estão adequadamente equipadas para enfrentar a violência dos black blocks ou não? Qual deveria ser a configuração das instituições republicanas para enfrentar esse tipo de desafio? Então, este é um período fascinante. Nós estamos expondo nossas feridas, expondo essa purulência que é a corrupção – e eu não diria que a corrupção piorou, mas que está mais exposta. Dezembro 2013 / Revista da CAASP // 19 “O brasileiro enxerga o Estado de uma perspectiva monárquica”


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