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Revista da CAASP - - - - Edição 08

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Então, Ruy Barbosa é superdimensionado pela história? Acho que sim. Mas acho também que, como a história é feita por seres humanos e não por heróis épicos, é preciso humanizar. Não se pode ser excessivamente rigoroso com os personagens do passado. É preciso entender que eles tinham defeitos, angústias, inseguranças. Tiveram grandes coragens e grandes medos, grandes realizações e grandes fracassos – não há personagem que passe imune por esse crivo. O que eu procuro nos meus livros é justamente jogar luzes sobre esses personagens e mostrar que eles tinham dimensões heroicas e dimensões muito frágeis, às vezes até de covardia, coisa que o grupo “Procure Saber” de hoje não gostaria de ver publicadas nas biografias de seus membros (risos). Bem, temos o Século XX praticamente inteiro para ser explorado. Qual seu próximo livro? Eu não vou mais fazer livros com data na capa. Vou continuar escrevendo sobre História do Brasil, mantendo essa mesma fórmula de linguagem, mas acho que não virei para o Século XX. Vou ficar no Século XVIII, no Século XIX, pois acho que é o período formador do que nós somos hoje. Há uma história muito mal explicada. Com a ruptura que a República representou, toda a história monárquica brasileira foi desconstruída. Para a República se legitimar, ela precisava desconstruir a história monárquica e reconstruir sua mitologia. Então, o Brasil torna-se um país meio “sem pai nem mãe”, e isso reflete na forma contraditória com que olhamos para o passado: às vezes de uma forma excessivamente épica, às vezes de forma muito “vira-lata”. Que significado terá o momento presente na História do Brasil ainda por ser escrita? Como você avalia as recentes manifestações populares? Vejo-as como um espasmo, um sinal vital de um período extremamente rico que estamos vivendo, que é o da reconstrução do Estado Republicano brasileiro. Eu digo o seguinte: a República foi nominalmente proclamada em 1889, mas eu diria que até 1984 nós fomos mais uma República monárquica do que uma República democrática. Nós tivemos uma série de “imperadores republicanos”. Se você olhar para o Getúlio Vargas do Estado Novo, trata-se de um monarca republicano, que organiza o Estado, faz a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), faz a Constituição de 1937 com o Congresso fechado. O regime de 1964 também: tínhamos monarcas republicanos fardados. 18 // Revista da CAASP / Dezembro 2013


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