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Revista da CAASP - - - - Edição 08

“José Bonifácio é o mais importante personagem da história brasileira” Dezembro 2013 / Revista da CAASP // 15 progressiva e gradual da escravidão, reforma agrária pela taxação do latifúndio improdutivo, separação entre Igreja e Estado, investimento em educação para todos, incentivo à indústria, à agricultura e ao comércio, e a transferência da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Se o Brasil tivesse executado a agenda de José Bonifácio na época da Independência, isso nos teria catapultado a um patamar de desenvolvimento e cidadania que hoje nos aproximaria de um país de Primeiro Mundo. Em “1889” você se refere a D. Pedro II, várias vezes, em tom de piedade. Por quê? Como era a personalidade do homem que governou o Brasil por 48 anos? O ser humano Pedro II me dá muita pena, muita compaixão. Ele foi uma criança abandonada pelo pai e pela madrasta aos cinco anos. As cartas entre eles são de cortar o coração – “pai, estou com muita saudade, me mande uma mecha do seu cabelo”, chegou a escrever. Agora, ele foi criado como uma instituição de Estado pela elite brasileira, primeiro por José Bonifácio, depois pelos regentes. E daí emerge um D. Pedro II que tem pouco a ver com o ser humano, que é muito bem preparado para exercer sua função institucional. É um imperador que envelhece muito rapidamente. Na maioridade, a coroa era-lhe muito pesada, o cetro era maior que ele. Ele era um homem cuja voz não engrossou – uma característica curiosa, ele manteve a voz de adolescente, esganiçada, que contradizia sua aparência física. E D. Pedro II vai ficando muito circunspecto - usava aquela casaca preta – e envelhece precocemente. D. Pedro II era amigo de Victor Hugo e de Graham Bell, amante das artes e das ciências, patrocinou Carlos Gomes, Vitor Meireles, Pedro Américo, mas governou o tempo todo um país dominado pelo analfabetismo, pela escravidão, pela pobreza e pelo latifúndio. Então, ele tem um papel mitológico que está descolado da realidade. O Império brasileiro era uma miragem, onde se projetava um ambiente de corte europeia, sofisticada e liberal, enquanto a realidade nas ruas era de pobreza, escravidão e analfabetismo.


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