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Revista da CAASP - - - - Edição 08

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ E quem era D. Pedro I? Era uma força viva da natureza, o oposto do pai. Ele era um homem impulsivo, teve várias amantes, inúmeros filhos legítimos e ilegítimos. D. Pedro I tinha uma índole autoritária de soberano absoluto, mas um discurso liberal. É muito interessante o que ele faz com a Constituinte de 1822/23 e com a Constituição de 1824. D. Pedro I não suporta a ideia de que uma Assembleia Constituinte lhe dite regras, mas promulga a Constituição de 1824, que é gesto de um soberano absoluto, com componentes absolutamente liberais de respeito à liberdade de expressão, liberdade de imprensa. Porém, embute o Poder Moderador, que no fundo é um mecanismo de um soberano absoluto. Então, ele é um homem cheio de contradições. Ele estava com um pé no Século XVII, no Absolutismo, e outro pé no Século XXI. É muito interessante observar que a história não é feita só pelas circunstâncias, pela macroestrutura, pelos interesses econômicos, políticos e geopolíticos. As pessoas influem decisivamente na história. Se pegarmos D. Pedro I, homem impulsivo, aventureiro, destemido, e botarmos em Portugal em 1807, provavelmente ele iria querer enfrentar Napoleão e mudaria a história. Se você botar D. João VI às margem do Ipiranga no dia 7 de setembro de 1822, o processo de independência do Brasil seria totalmente outro, pois ele iria adiar, iria contemporizar com as cortes. José Bonifácio de Andrada e Silva. Para mim, o mais importante personagem da história brasileira, por duas razões. Era um estadista, um homem muito bem preparado, com muita experiência – ele tinha sido professor na Universidade de Coimbra. Era também um grande cientista, tendo descoberto vários minérios. Ele testemunhou a Revolução Francesa de perto, em Paris, e viu o que era o povo na rua com reivindicação política sem passar pelo filtro das instituições e o perigo que isso representava. Ele lutou nas Guerras Napoleônicas. E, então, vem para o Brasil com uma visão de país maravilhosa. Ele chegou aqui e percebeu que no Brasil – com tantos pobres, analfabetos, escravos, concentração de riqueza, tanta rivalidade regional, sem comunicação – a única forma de conservar o país unido era manter no Rio de Janeiro o que ele chamou de um centro de união e poder, ou seja, monarquia. José Bonifácio percebeu que só a coroa poderia deixar o Brasil longe de uma guerra civil republicana ou uma guerra étnica entre escravos e brancos. Essa forma de Brasil é que emerge das margens do Ipiranga em 7 de setembro de 1822. Só que a agenda completa de José Bonifácio foi abortada. O Brasil realmente manteve monarquia constitucional e integridade territorial, mas ele defendia também fim do tráfico negreiro, abolição 14 // Revista da CAASP / Dezembro 2013


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