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Revista da CAASP - - - - Edição 08

É a escola do new journalism americano, que tem entre seus expoentes Truman Capote, Norman Mailer, Gay Talese... Exatamente. É uma forma de você, sem criar ficção, criar um ambiente literário para seduzir a atenção do leitor. Isso explica, por exemplo, os subtítulos dos meus livros, provocativos, em que eu trabalho com estereótipos. São iscas que eu lanço para o leitor, jogo muita luz nos personagens, não fico só na análise da macroestrutura da economia brasileira ou da escravidão. Quando você joga luz nas pessoas, a história se torna atraente para leitor de carne e osso. Trabalhar com gente é uma característica do jornalista. Dezembro 2013 / Revista da CAASP // 13 Seus três livros foram recebidos da mesma forma pela crítica? Se consideramos os leitores médios e a imprensa, sim. A academia, não. A academia foi mais crítica no primeiro – eu levei muita paulada – e no segundo. Agora, no terceiro, não. Eu não sei se a paulada ainda virá, pode ser que sim. Ou talvez a academia tenha percebido que eu tenho uma contribuição que merece ser levada em conta, que eu não estou competindo com a historiografia acadêmica nem desqualificando a história do Brasil. Acho que o grande desafio no meu trabalho é ampliar o público sem desqualificar o conteúdo. Você pode fazer um livro de história do Brasil muito banal, cheio de curiosidades e de coisas pitorescas, o que não contribui em nada. Ou então você pode dar um mergulho muito profundo e afastar o leitor leigo. Este é o desafio: como é que você amplia o público mantendo a consistência do conteúdo. Eu acho que meus livros conseguem sobreviver nessa linha tênue e perigosa. Quem era D. João VI? Para mim ele foi nosso primeiro Macunaíma, um anti-herói. Era um homem com grandes dificuldades pessoais, medroso, depressivo, indeciso, muito gordo, muito solitário. Ele não era um grande general, um estadista, um homem assertivo. Mas, ao fugir para o Brasil ele se transforma num agente que muda profundamente a realidade portuguesa e brasileira. Então, ele foi um grande agente de transformação. Aliás, Oliveira Lima (Manuel de Oliveira Lima, escritor e embaixador brasileiro falecido em 1928) chama D. João VI de “o verdadeiro fundador da nacionalidade brasileira”. Realmente, até a chegada da corte portuguesa ao Brasil, a noção de identidade nacional não existia, as pessoas não se consideravam brasileiras. Então, ele é um herói pelas avessas.


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