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Revista da CAASP - - - - Edição 08

Dezembro 2013 / Revista da CAASP // 11 Gilberto Freyre foi mal compreendido pela esquerda brasileira? Sim. Existem dois grandes injustiçados pela esquerda brasileira: Gilberto Freyre e Câmara Cascudo, folclorista potiguar fundamental para se entender o Brasil de hoje. Criou-se o preconceito de que Gilberto Freyre e Câmara Cascudo eram de direita, numa época em que a academia brasileira, de esquerda, comprava pelo valor de face o trabalho de Nelson Werneck Sodré, que eu considero um proselitista. Eu tenho dificuldade de usar Nelson Werneck Sodré em minhas bibliografias porque o que tem ali, na maioria das vezes, é propaganda partidária, e ele foi rapidamente comprado pela academia. E Caio Prado Júnior, outro ícone da esquerda acadêmica, também faz propaganda partidária? Menos que Nelson Werneck Sodré, mas também faz. Eu não tenho nada contra. Eu acho que a história, a ciência social, é composta de múltiplas visões e narrativas. Pode haver uma história de esquerda, uma história socialista, uma história liberal, uma história mais de direita, desde que intelectualmente honestas, que respeitem suas fontes. Agora, o que me preocupa é quando essa história é comprada ou boicotada de forma deliberada para defender bandeiras ideológicas do presente. Nesse sentido, Nelson Werneck Sodré foi inflacionado pela academia – e talvez Caio Prado Júnior também –, uma academia de viés de esquerda, enquanto Câmara Cascudo e Gilberto Freyre eram demonizados. Mas hoje isso está mudando. As pessoas começam a entender que há coisas importantes na obra de Caio Prado Júnior, de Sérgio Buarque de Hollanda, de Gilberto Freyre, de Câmara Cascudo. Talvez um dos livros mais importantes do Brasil seja “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro. Os donos do poder no Brasil de hoje são os mesmos descritos por Faoro, ou o poder mudou de mãos? Eu usei “Os Donos do Poder” em meus três livros, e usei também um outro livro de Faoro chamado “A República Inacabada”. Gosto muito do trabalho dele. Raymundo Faoro não é um pesquisador primário, mas um ensaísta. Ele traz visões inovadoras, até surpreendentes, sobre o Brasil, tanto quanto Sérgio Buarque de Hollanda, e uma dessas visões é a do patrimonialismo, que é muito forte no Brasil e pode ser visto claramente na predação dos serviços públicos, por exemplo, em um partido como o PMDB, que tem o objetivo claro de pilhar os recursos públicos. Não se consegue enxergar no PMDB um projeto nacional, um projeto de construção do Brasil como têm o PT, o PSDB, o partido da Marina


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