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Revista da CAASP - - - - Edição 08

\\ EENNTTRREEVVIISSTTAA Qual destas duas obras descreve melhor a formação de um caráter genuinamente brasileiro: “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Hollanda, ou “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre? As duas são absolutamente complementares. Sérgio Buarque de Hollanda desenvolve, em “Raízes do Brasil”, ideias maravilhosas e surpreendentes, como a figura do “brasileiro cordial”. Ao contrário do que as pessoas imaginam, não se trata de um “amigão”, um sujeito gentil. É uma pessoa que nem sempre é confiável, que se escuda em “jeitinhos” e desculpas para não ser afrontada e nem afrontar. É um tipo dissimulado – esse é o homem cordial brasileiro. É um sujeito que tem sempre uma agenda oculta. Então, ele é complicado como agente político, porque ele não se expressa, ele finge que aceita mas pode puxar uma peixeira a qualquer momento – esse é o homem cordial de Sérgio Buarque de Hollanda, o brasileiro que é herdeiro de um regime de escravidão, de exploração, de exclusão social e que tem medo de se expressar de forma assertiva, transparente. Então, ele cria um problema de participação política, porque aquele que não se expressa de forma clara nunca vai ser um agente político participativo e confiável. Essa análise não aparece em “Casa Grande & Senzala”. O livro de Gilberto Freyre mostra uma composição da sociedade brasileira pela sua variedade, pela sua riqueza cultural, pela contribuição africana, pela convivência entre o senhor branco e os seus escravos, que é maravilhosa. Ele quebra os muros entre a Casa Grande e a senzala. Gilberto Freyre é criticado por muitos intelectuais por, digamos, ver um lado bonito na escravidão. Essa análise de sua obra não seria superficial? A escravidão é, por natureza, um regime de violência, opressão, migração forçada, em que pessoas são tratadas como mercadoria. Mas há sutilezas na escravidão, na forma como dois mundos se comunicavam, além da contribuição que a cultura negra deu para a formação na nacionalidade brasileira, que tem sofrimento mas que também tem muita beleza. Há o jeito de sermos, o jeito com que nos expressamos, a música, a dança. 10 // Revista da CAASP / Dezembro 2013 Fotos Cristóvão Bernardo “ O brasileiro é herdeiro de um regime de escravidão”


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