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Revista da CAASP -- Edição 07--

\\ Do ponto de vista exclusivamente cinematográfico, o sucesso de Anatomia de um Crime já se explicaria pela grande projeção, à época do seu lançamento, do diretor Otto Preminger e a excelência do elenco, que contou com o já consagrado James Stewart além de outros astros em ascensão, entre eles George C. Scott. Abertura genial de Saul Bass é uma das marcas do filme 48 // Revista da CAASP / Outubro 2013 A trilha sonora jazzística de Duke Ellington é inovadora e instigante, encaixando-se perfeitamente no roteiro. Também fizeram sucesso, marcando época, os recursos gráficos da abertura do filme e dos cartazes de divulgação, produzidos por Saul Bass, o mesmo designer revolucionário dos efeitos de Vertigo (Um corpo que cai), filme de Alfred Hitchcok de 1958. Afora os aspectos relacionados a Hollywood, no entanto, fatos e personalidades do mundo jurídico são fundamentais para compreender as singularidades desse filme. O roteiro é baseado num best seller de 1957, escrito por Robert Traver, pseudônimo de John D. Voelker, juiz da Suprema Corte de Michigan, inspirado num caso de 1952 em que Voelker atuou como advogado. Convenhamos que a situação não é corriqueira, mais ainda porque o magistrado acompanhou a produção do filme ao lado de Preminger, inclusive contracenando com o diretor no trailer de divulgação, o que assegura que a obra ficcional é realista e verossímil em relação às práticas judiciais da época numa corte do interior de Michigan. Prova disto é a competente argumentação tanto do promotor quanto do advogado, bem como a forma marcante, porém calculada, com que esses personagens exageram suas próprias personalidades, teatralmente, para causar efeito sobre o júri, conforme já observaram críticos de cinema. Outro detalhe extra-hollywoodiano é a presença de ninguém menos que Joseph Welsh no papel de juiz. Welsh, na vida real, foi o advogado que desmoralizou publicamente o senador Joseph McCarthy, pondo fim à tenebrosa caça às bruxas nos Estados Unidos dos anos 1950 (http://www. senate.gov/artandhistory/history/minute/Have_you_no_sense_of_decency.htm). Em sua cruzada anticomunista, o poderoso e temido senador, em retaliação à recusa de favorecimento a um protegido político, acusara o exército de negligência à segurança nacional devido a infiltrações esquerdistas. O escritório de Welsh foi contratado pela corporação para defendê-la na investigação do Senado. Na audiência decisiva, televisada em rede nacional pela ABC, em admirável exercício de retórica, Welsh leva McCarthy a perder o senso do limite e a compostura, vingativamente acusando um jovem advogado de Harvard, do escritório de Welsh, de pertencer a uma organização comunista.


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