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Revista da CAASP -- Edição 07--

101 anos de idade, a partir do que se instalou esse processo verdadeiramente kafkiano para disputar o legado de K., hoje um cidadão do mundo. Duas filhas de Esther Hoffe, Eva e Ruth, são também parte no processo, litigando com as bibliotecas. Elas alegam não ser preciso inventariar tais documentos, cujo valor pode ser simplesmente determinado pelo peso. Representando Eva e Ruth, um dos advogados do espólio de Hoffe esclarece: “Se chegarmos a um acordo, o material será oferecido à venda como uma única peça, num pacote. E será vendido pelo peso. Há um quilo de papéis aqui. Quem fizer a melhor oferta poderá aproximar-se e examinar o material”. Para caracterizar-se como totalmente kafkiana, falta a esta causa apenas jamais terminar, pois o infindável é um dos atributos que hoje associamos ao adjetivo kafkiano. Esse processo, onde se disputa propriedade, naturalmente é diferente daquele do livro O Processo, onde se trata de uma culpa indefinida. No entanto, em essência, aqui vemos novamente K. esmagado pela lógica do absurdo, de um lado por instituições de longos tentáculos, de outro lado pela onipresente ambição humana. Quase 100 anos após sua morte, a vontade final de Kafka não foi cumprida. Afinal, qual a culpa de K.? – pois seu castigo segue o curso de mais esse processo. (Luiz Barros) Anatomia de um crime No filme de Preminger, duelo ácido entre defesa e acusação Outubro 2013 / Revista da CAASP // 47 Baseado em fatos ocorridos numa pequena cidade do centro-oeste americano, o filme mostra o julgamento de um caso de assassinato, em que o réu, um tenente do exército, confessa o crime, porém alega tê-lo cometido sob um “impulso irresistível”, insano, afirmando que a vítima, o dono de uma hospedaria, havia estuprado sua mulher, uma jovem insinuante e vulgar. O promotor, de outro lado, acusa-o de homicídio premeditado, motivado por ciúme, rejeitando a alegação de estupro. Com esse eixo narrativo bastante simples, cabe entender por que Anatomia de um Crime, de 1959, é considerado um dos maiores filmes de tribunal de todos os tempos e também um dos grandes clássicos da história do cinema.


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