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Revista da CAASP -- Edição 07--

a desumanos cortes nos gastos sociais – assalariados em geral e aposentados costumam pagar o pato. Espanha e Grécia têm índices de desemprego de 26% e 27%, respectivamente, e mais de 50% dos jovens de até 24 anos não têm trabalho nesses países. Portugal segue na mesma toada, com desemprego de 16,5%. Os Estados Unidos também têm desemprego maior que o Brasil, em torno de 7%. Belluzzo é um dos que ironizam aqueles que defendem o aumento do desemprego para conter a inflação brasileira. “Isso é coisa do Milton Friedman, a chamada taxa natural de desemprego. Ninguém mais leva essa gente a sério”, diz, referindo-se ao economista americano já falecido, professor da Escola de Chicago, idolatrado por quem enxerga o mercado como uma entidade suprema. “O manejo da taxa de juros por conta da inflação tem de ser responsável. O que se propagou foi uma disparada brutal da inflação, que não aconteceu nem vai acontecer. Eu vi uma economista na televisão agitando os braços, gritando ‘a inflação voltou’. Eu, como trabalhei no governo Sarney, sei como é se deparar com uma crise hiperinflacionária”, recorda Belluzzo. O economista da Unicamp foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1985 e 1987. No último ano do governo de José Sarney (1985-1990) a inflação foi de 1.764,86%. Para ser vencida sem milagres, a inflação precisa ter suas reais causas detectadas – isso é unânime. “Em grande parte, a inflação atual é oriunda da apreciação do câmbio. Quando se apreciou o câmbio, privilegiou-se os importados e se destruiu boa parte da indústria brasileira. O setor de serviços aumentou os salários muito acima da produtividade, e isso repercutiu nos demais setores: se você aumenta os salários e não aumenta a produtividade, está aumentando os custos, e os setores tinham de repassá-los de alguma forma”, explica Nakano. Câmbio - Em agosto, o anúncio - também em tonalidade catastrófica - de que o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) encerraria a fase de incentivos à economia americana, pela qual despejava US$ 85 bilhões por mês na praça, levou à alta do dólar no mundo inteiro. No Brasil, o câmbio chegou a ultrapassar os R$ 2,50. O Banco Central atuou, mantendo a liquidez no mercado de câmbio e segurando a alta da moeda americana. Ocorre que, para tranquilidade geral, o que o Fed anunciou foi a continuidade por mais algum tempo da sua política de incentivos. Os mercados contiveram, então, o açodamento, e o câmbio voltou à sua flutuação normal, ao menos por enquanto. “Quando nós tínhamos a invasão de dólares no país – a chamada guerra cambial – todos acharam que aquilo ia ser perene. Agora, com a melhora do sistema financeiro americano, estamos simplesmente retornando ao status quo, e vamos ter de achar uma taxa de câmbio que, com o encarecimento do produto importado, faça o produtor do similar nacional se animar a produzir”, recomenda Ary Oswaldo Mattos Filho. Outubro 2013 / Revista da CAASP // 25


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