“ Achar que o pré-sal resolve é o que me assusta” Outubro 2013 / Revista da CAASP // 15 Além disso, esse dinheiro é uma hipótese. Quem tem certeza de que esse dinheiro existe? Se for a parte do Eike Batista... Além do mais, quem tem certeza de que haverá solução técnica para extrair? E quem sabe qual será o preço do petróleo? Achar que o pré-sal resolve é o que me assusta. Qual sua opinião sobre a política de cotas nas faculdades? É um paliativo, que eu entendo necessário. Mas não tem nada a ver com educação. Cota tem a ver com a questão racial. Acho que algumas pessoas acham que as cotas explicitam o problema racial e que isso não seria bom para o Brasil porque devemos dizer que somos todos iguais. Eu acho que a maioria, na verdade, não quer perder a vaga de branco para colocar um negro. É a defesa de um direito que se adquiriu. Agora, àqueles que dizem que vai explicitar o problema racial eu digo: ótimo, está na hora de explicitar o problema. Nós poderíamos continuar colocando para debaixo do tapete o problema racial, e a gente sabe que o preconceito existe porque os negros são pobres – na verdade, não é porque são negros, pois o dinheiro “embranquece”. E o diploma “embranquece”. Eu sou de uma região de muitos negros, o Nordeste. Minha família nunca teve preconceito racial. Mas a primeira vez que eu me consultei com um médico negro eu tinha 60 anos e estava em Angola. Tem que quebrar isso. Qual o jeito de se quebrar isso? Aumentar o número de universitários negros como caminho para mestiçar a cara da elite brasileira. A elite brasileira tem uma cara branca, num país que não é branco. A gente tem que colorir a cara da elite brasileira dando diploma. E está provado que não cai a qualidade, porque só entra com a cota quem passar no vestibular. A cota não dá direito de entrar, ela dá uma classificação melhor para quem passou embaixo e é negro. Depois que você passou no vestibular, não tem diferença entre quem passou em primeiro e último. Em lugares como a UNB, os cotistas têm média melhor que os outros.
Revista da CAASP -- Edição 07--
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