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Revista da CAASP -- Edição 06

\\ Grandes, únicos. E muito diferentes Machado de Assis é o maior escritor brasileiro, porém é Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, a maior obra-prima de nossa literatura. Guimarães Rosa: gênio de estilo inimitável 52 // Revista da CAASP / Agosto 2013 Por Luiz Barros* Machado retratou a vida urbana no final do Século XIX, em especial a carioca – uma vida que se modernizava buscando novos valores e costumes em meio às molduras de uma sociedade que rapidamente se tornava arcaica, à época do final do Império, da Abolição, do início da República. Seus personagens são retratados com sutileza, perspicácia psicológica e fina ironia; e a fluência da narrativa é insuperável. Em sentido oposto, em meados do Século XX, já em curso a industrialização brasileira que levaria à acelerada e irreversível urbanização, Rosa alçou os olhos para uma parte da vida e do território brasileiro que – ainda que compusessem com grande força o presente na ocasião – mais se assemelhavam a um passado que coexistia intocado à margem do chamado progresso brasileiro, e assim o escritor dedicou-se a retratar a realidade e o misticismo dos sertões. Para além do que escreveram, porém, em grande parte foi a forma com que escreveram – isto é, como cada um fez uso da língua portuguesa – o que granjeou a ambos o lugar de distinção que ocupam nas letras brasileiras. Segundo dados apresentados no encontro “Movimentos Atuais da Literatura Brasileira”, organizado pelo Itaú Cultural na Flip (Feira Literária Internacional de Paraty) deste ano, Machado de Assis e Guimarães Rosa mantêm-se nos primeiros lugares entre os 10 escritores mais estudados nos programas de doutorado em literatura brasileira no Brasil e no exterior (O Estado de São Paulo – 4/07/2013). A Machado muito se deve para a depuração da língua portuguesa. Fixou uma forma leve, direta e enxuta de escrita, que nos soa coloquial ainda que vazada na expressão mais pura e correta do idioma. Com naturalidade ele faz o que quer da narrativa e do leitor, avançando e retrocedendo na história sem jamais perder o fio da meada ou deixar que o leitor se perca nela. Radicalmente diferente de Guimarães


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