Page 41

Revista da CAASP -- Edição 06

Arquivo pessoal Paulo Saldiva Saldiva: falta de mobilidade é responsável por uma série de problemas de saúde Agosto 2013 / Revista da CAASP // 41 esportes, se perceber que a umidade do ar é baixa, deve suspender a atividade física nesse dia”, recomenda Araújo. “No fim, a redução da poluição depende das atitudes de todos, procurando evitar o uso indiscriminado do automóvel e também o tabagismo”, finaliza. E o que as autoridades podem fazer para reduzir a poluição em São Paulo? Para Paulo Saldiva, parte da resposta está na pauta de mobilidade urbana, que nunca foi pensada corretamente. “A questão da mobilidade relaciona-se com problemas de obesidade, diabete, osteoporose, doenças cardiovasculares, respiratórias”, sentencia o especialista. E explica: “Primeiro, é impossível melhorar a qualidade do sono numa cidade que tem ruído o tempo inteiro. Segundo, o paulistano precisa acordar cada vez mais cedo para chegar a tempo ao trabalho. Terceiro, se esse paulistano tiver um carro, ele não anda e o índice de sedentarismo dele é maior. Passar 20 minutos no trânsito faz a pressão arterial aumentar, faz acontecer mais arritmias espontâneas, o pulmão se fecha para tentar impedir a entrada dos poluentes, além de despertar inflamações subclínicas – aquelas em que o agente desencadeador está adormecido”. Investimento em transporte coletivo é um caminho. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou uma pesquisa que mostrou que o ar na capital paulista seria, em média, 30% mais poluído caso o metrô, que transporta diariamente 4 milhões de passageiros, não existisse. O estudo, apresentado em junho deste ano, foi feito durante uma década e comparou a qualidade do ar entre os dias em que o metrô funcionou normalmente e aqueles em que o serviço foi afetado por greves, como as ocorridas em 2003 e 2006. “O grande problema é que as pessoas aprenderam a se defender do transporte coletivo ruim comprando seus carros. E os governos estimularam o problema com incentivos fiscais, dificultando a solução”, observa Saldiva. Para o professor da USP, não há impedimentos técnicos para a melhoria da mobilidade. “Quando a zona livre de carros no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, foi implementada, a velocidade média dos ônibus da região chegou a picos de 21 quilômetros por hora, quase o triplo da velocidade anterior. Mas para que isso acontecesse a prefeitura teve que escutar muita chiadeira de motorista”, exemplifica. Mais linhas de metrô e ampliação das atuais, corredores de ônibus, veículos que utilizem combustíveis mais limpos e trólebus são alguns dos caminhos que deveriam ser privilegiados.


Revista da CAASP -- Edição 06
To see the actual publication please follow the link above