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Revista da CAASP -- Edição 06

ESPECIAL \\ Cinco encaixam-se em PPPs (parcerias público-privadas): Salvador, Natal, Fortaleza, Recife e Belo Horizonte. E três são privados: Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. O governo alega que os empréstimos via BNDES serão pagos pela operação privada das arenas. Note-se, contudo, que a maior parte desses empréstimos foi concedida a governos estaduais e prefeituras. As contraposições mais duras às assertivas governamentais vêm sendo feitas pelo deputado federal Romário, do PSB do Rio de Janeiro. O ex-craque notabiliza-se como parlamentar combativo e denunciante das mazelas no esporte, e coleciona inimigos na Fifa, na CBF e no próprio Congresso na mesma medida em que conquista a admiração dos eleitores. “A afirmação de que não há dinheiro público nos estádios não é verdadeira. Sabemos que a maioria das arenas são custeadas por estados e municípios, ou seja, com dinheiro público. Além disso, são financiadas pelo BNDES e outros bancos públicos com juros abaixo dos de mercado. Há também a isenção de impostos federais às construtoras”, aponta Romário. Desde que Lula “conquistou” a Copa do Mundo para o Brasil, o argumento favorável é que as obras de infraestrutura urbana necessárias à realização do megaevento resultariam em um legado inestimável à população das cidades-sede e, mais do que isso, a todo o povo brasileiro, se consideradas as melhorias em aeroportos, por exemplo. Há que se questionar por que tais obras, então, não foram deflagradas independentemente da Copa. A previsão atual do COL é que sejam investidos em obras relacionadas com o campeonato mundial de futebol R$ 28 bilhões – o orçamento inicial era de R$ 25,5 bilhões. O montante contempla 327 projetos. Segundo Romário, enquanto os gastos totais com a Copa no Brasil alcançam tamanha cifra, os eventos congêneres na Alemanha, em 2006, e no Japão, em 2002, custaram três vezes menos. A Copa da África do Sul, por sua vez, consumiu quatro vezes menos dinheiro do governo que a do Brasil até agora – R$ 7,1 bilhões. “Das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) voltadas para a Copa do Mundo, segundo as últimas estatísticas, só 5% estão em andamento. Paulatinamente, uma a uma foram sendo abandonadas. Então, nós não teremos nenhum legado realmente substantivo, como não tivemos os legados substantivos prometidos nos Jogos Panamericanos do Rio, em 2007. O verdadeiro legado do Pan foi um desperdício gigantesco”, recorda Juca Kfouri. A experiência da África do Sul, que sediou a Copa de 2010, dá razão ao jornalista. Segundo reportagem da agência de notícias Associated Press, cinco cidades sul-africanas estão processando as construtoras que efetuaram obras da Copa do Mundo: Johannesburgo, Cidade do Cabo, Durban, Port Elizabeth e Polokwane. Os municípios cobram na Justiça 3,9 bilhões de rands – o equivalente a US$ 394 milhões – por prejuízos causados. Na construção do estádio da Cidade do Cabo, por exemplo, constatou-se 30 // Revista da CAASP / Agosto 2013


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