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Revista da CAASP - Edição 03

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ O crime de colarinho branco pode ser tão grave quanto o crime de sangue em alguma situação? O crime colarinho branco não é tão grave quanto um crime de sangue, não. A infração mais grave que existe é matar alguém. Ocorre que o Brasil é, no mundo todo, o país que mais escorcha o cidadão com a tributação, com os impostos. Nos idos de 1240, o senhor feudal vivia no castelo e tirava dinheiro do camponês lá embaixo, tomava suas galinhas. Hoje, não é diferente, pois o Estado lhe toma o que pode tomar. Aqui, tem-se a maior carga de impostos do mundo inteiro, e hoje é uma tributação cruzada. Isso começou a existir com um sujeito chamado Fernando Henrique Cardoso. Quando Fernando Henrique era rei do Brasil iniciou-se o processo de cruzamento do CPF com o RG. Isso é o aperfeiçoamento de uma iniciativa que visa a fiscalizar o bolso do contribuinte. O Fernando Henrique é um homem que desperta curiosidade. Ele foi meu vizinho em Ibiúna. Eu o chamava de “Fernando Henrique I e Único, rei do Brasil”, um homem que conseguiu atravessar tanta coisa e sair incólume, inclusive dos anões do Orçamento. Hoje, posa de moralista. Não gosto dele. Não gosto de quem prega a moralidade absoluta mas tem pecados de origem. Eu, pelo menos, confesso os meus. De qualquer forma, a carga tributária é terrível no Brasil, e o cinturamento é apavorante – você não tem como se defender do Fisco. Os juízes fazendários trabalham, mas trabalham a favor do rei. O que o brasileiro odeia de fato é a desigualdade entre ele, que é escorchado, e aquele que entesoura os seus baús tomando do Estado aquilo que o burguês não consegue tomar. A grande justificativa para o delito é a comparação. Vamos falar sobre alguns advogados que se tornaram ministros da Justiça. Em um artigo, o senhor escreveu que o ex-ministro Saulo Ramos mentiu em seu livro “Código da Vida”. Em que ponto ele teria mentido? Eu conheci Saulo Ramos em Santos. Ele é mais velho que eu. Eu era adolescente e ele já era secretário de redação do jornal Tribuna de Santos. Ele sempre escreveu muito bem, usa a pena com muita competência. Saulo teve uma carreira muito curiosa: advogou muito pouco, ligou-se a Jânio Quadros, então governador de São Paulo, de quem foi um belo escudeiro. Virou presidente da Companhia Brasileira de Alimentos, teve alguns problemas intrincados que todos temos quando nos metemos em política. Defendeu Sarney com sucesso certa ocasião, e deu a Sarney uma sala em seu escritório, a qual só foi usada para descanso. Em retribuição, quando presidente, Sarney deu-lhe os cargos de consultor-geral da República e, depois, de ministro da Justiça. 22 // Revista da CAASP / Fevereiro 2013


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