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Revista da CAASP - Edição 26-

62 REVISTA DA CAASP Entre suas primeiras obras, talvez uma das mais conhecidas seja Morte em Veneza (1912), que foi levada ao cinema pelo diretor italiano Luchino Visconti, numa produção ítalo-francesa vencedora do Festival de Cannes em 1971. O livro trata do enamoramento de um compositor por um menino de beleza incomparável – e também teria sido inspirado em suas vivências pessoais. A Montanha Mágica, em 1982, e Os Buddenbrooks, em 2008, também foram levados ao cinema, em produções alemãs que não tiveram a mesma repercussão do filme de Visconti. Ao casar-se com uma judia, em 1905, o escritor colocou-se em rota de colisão com o antissemitismo que viria a dominar a Alemanha. Reformulou certas posturas filosóficas e políticas e, após ativa militância antinazista, em 1933, ano em que Hitler tomou o poder, o escritor auto-exilou-se com a família, primeiro na Suíça e depois nos Estados Unidos, tendo ali recebido a cidadania americana. O auto-exílio, na verdade, foi a antecipação de um destino inevitável e já selado: ele estava nas listas de deportação do Estado alemão. Neste mesmo ano da ascensão de Hitler, Thomas Mann inicia a publicação de sua obra mais grandiosa, José e Seus Irmãos, na qual já vinha trabalhando há vários anos. Em quatro volumes – As Histórias de Jacó (1933), O Jovem José (1934), José no Egito (1936) e José, o Provedor (1943) – o escritor alemão reconstrói a saga bíblica dos patriarcas hebreus relatada no livro do Gênesis, ao tempo em que a Alemanha passa a perseguir e exterminar os judeus. É necessário aqui parar um instante a leitura para melhor apreender os fatos e refletir: enquanto Hitler, que Thomas Mann chamava de “o pequeno Adolfo”, dizimava os judeus na Europa, o escritor, que era protestante, nos Estados Unidos homenageava-os com o mais portentoso de seus romances históricos. Em José e Seus Irmãos não apenas a cultura hebraica é reconstituída por ele em forma de romance, como toda a antiga civilização egípcia. Mas sua luta não foi apenas simbólica e literária. Durante os anos da Segunda Guerra, de 1940 a 1945, ele gravou na Califórnia, onde morava, um programa de rádio em alemão, apelando seus compatriotas à razão, que era transmitido mensalmente pela BBC de Londres. Suas exortações ao povo alemão não passaram despercebidas ao próprio Führer, que chegou a atacar pessoalmente, em discursos, as falas do escritor. Thomas Mann não tem pressa ao escrever. É meticuloso na caracterização dos personagens e nas suas narrativas interpõe descrições detalhadas. De forma análoga a que vamos encontrar em Machado de Assis, o narrador com Morte em Veneza: obra de Mann levada ao cinema por Visconti. LITERATURA


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