Page 38

Revista da CAASP - Edição 26-

38 REVISTA DA CAASP “Venha descansar, tomar um café e bater um papo em um lugar tranquilo”. A frase estampa o panfleto do Centro de Convivência “É de Lei”, organização não-governamental que atua na redução de danos sociais e à saúde de usuários de drogas. André Contrucci, coordenador de Comunicação da ONG, explica o motivo do slogan: “Para quem está numa situação de rua, que é o caso de boa parte dos usuários de droga, esse tipo de convite é uma coisa muito rara”. Instalado no quarto andar do Centro Comercial Presidente, na região da Praça da República, em São Paulo, a “É de Lei” recebe por dia 20 pessoas que fazem ou já fizeram uso problemático de algum tipo de droga, na maioria homens negros. Além do café, há rodas de conversas sobre os mais diversos assuntos, incluindo doenças e uso de drogas. Os convivas têm ainda a oportunidade de fazer oficinas culturais, assistir a filmes, acessar a internet e participar de visitas a museus e teatros. Contrucci conta que o Centro de Convivência tem apelo importante na sociabilidade dos dependentes e na promoção da política de redução de danos. “Junto com esse café, vêm rodas de conversas sobre assuntos importantes relacionados ao uso de drogas, sobre o autocuidado no consumo e a incidência de doenças”, descreve. Não é só no âmbito social que a “É de Lei” enxerga a realidade do dependente de crack de uma forma diferente. Todo esse acolhimento aos dependentes, gratuito, baseia-se na política de redução de danos. A redução dos riscos é uma estratégia pragmática de saúde pública que objetiva reduzir as consequências à saúde causadas pelo consumo de droga para o usuário, sua família e a sociedade. A primeira experiência no Brasil nessa linha ocorreu em 1990, na cidade de Santos, quando o Instituto de Estudos e Pesquisas em Aids de Santos foi para as ruas distribuir seringas estéreis aos usuários de drogas injetáveis. Desde então, têm sido desenvolvidas ações nestas perspectivas para diferentes drogas e suas diferentes formas de consumo. Inicialmente, as estratégias de redução de danos foram tratadas como incitadoras do consumo de substâncias e, em certos contextos, ainda são vistas dessa forma. “Às vezes, a pessoa não quer ou não consegue parar de usar a droga, mas ainda assim ela merece ser acompanhada e cuidada”, adverte Contrucci. E continua: “São pequenas metas construídas junto ao usuário que visam a melhorar sua SAÚDE INTERNAR PARA RECUPERAR? André Contrucci, da ONG “É de Lei”.


Revista da CAASP - Edição 26-
To see the actual publication please follow the link above