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50 REVISTA DA CAASP Kramer x Kramer, lançado em 1979, além de ter sido um grande sucesso, foi um filme momentoso à ocasião, destes sobre os quais as pessoas discutiam e comentavam. Dirigido por Robert Benton e estrelado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, ganhou cinco Oscars, inclusive os de melhor diretor, melhor ator e melhor atriz, e uma série de outros prêmios importantes. A história trata da separação de um casal, na década de 1970, e sua disputa pela guarda de um filho pequeno. Em síntese, a mulher, Joana, que abandonara sua vida profissional para dedicar-se inteiramente a ser esposa e mãe, sente-se infeliz no casamento e, um belo dia, sai de casa sem maiores explicações. O marido, Ted, por sua vez, que anteriormente dedicava-se integralmente ao trabalho, é forçado a assumir os cuidados com o filho e com a casa, de início desajeitadamente, com isto mudando suas relações no trabalho e seus valores. Porém, após um ano e meio, quando pai e filho já haviam encontrado uma forma ajustada e feliz de convivência, a mulher volta e reivindica a guarda da criança por “ter-se encontrado”, e alegando o seu direito materno. O casal vai ao tribunal para resolver a questão. Passados 37 anos, o filme conserva um clima atraente e é agradável de assistir. Mas hoje parece transparecer certa ingenuidade, um quê levemente açucarado a temperar um drama que é narrado em cores suaves e delicadas, com comedidas cenas de violência verbal – aliás, as principais são cometidas pelos advogados no tribunal. Kramer x Kramer continua sendo emblemático, mas isto se deve menos às qualidades internas da produção, embora os atores estejam muito bem, e mais por retratar um contexto histórico, sociológico e de evolução do Direito de Família. Na década de 1970, em várias partes do mundo ocorreram mudanças legais significativas que vieram a afetar o casamento, o divórcio e a fixação da guarda dos filhos. No Brasil, por exemplo, é de 1977 a Lei do Divórcio. Nos EUA, após a revolução sexual dos anos 1960 e o avanço do feminismo, na década de 1970 surgiram movimentos de pais separados reivindicando a guarda compartilhada dos filhos. A película foi pioneira: na ocasião era um filme ousado a tratar de temas do momento – essa foi a chave de seu sucesso. Hoje, mesmo que nas separações, do ponto de vista estatístico, na prática a guarda dos filhos continue ficando com as mulheres mais do que com os homens, não é mais novidade falar-se do pai que assume o cuidar das crianças, como foi novidade debater o tema no cinema em 1979. CINEMA


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