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sentir intensas dores nas costas. “Andava muito, era um trajeto de duas horas de casa ao escritório. Havia dias em que me arrastava para ir trabalhar, tamanha era a dor”, lembra-se. Descobriu que o incômodo devia-se a uma hérnia de disco que estava comprimindo as raízes nervosas que emergem da coluna. Paralelamente às dores físicas, a advogada enfrentava outro drama. “A fábrica havia sido o investimento de uma vida inteira para meu marido, e apesar de toda a situação, ele não abria a boca para se queixar. No entanto, eu sentia e percebia que ele estava desolado. Eu o via sentado, com a cabeça recostada no sofá, com um semblante triste”, descreve Maria Luiza, completando: “Ele estava definhando, morrendo aos poucos”. Ademar Cardoso Agudo faleceu subitamente em setembro de 2009, aos 70 anos. Maria Luiza teve pouco tempo para chorar a morte do marido. Foi submetida a uma cirurgia para corrigir o defeito mecânico em sua coluna pouco tempo depois. Hoje, em sua coluna há seis pinos de titânio. Ela tem dificuldade para caminhar. Sozinha, sem a companhia do marido e dos filhos – ambos casados e com famílias constituídas -, a depressão não tardou a vir. “Foram 45 anos de casamento. Ele era a grande paixão da minha vida. Éramos como unha e carne”, emociona-se Maria Luiza. É possível constatar o amor e a união do casal nos diversos aparadores que decoram a casa onde viveram, todos repletos de fotografias que contam a história da família. A advogada é visitada REVISTA DA CAASP 47 pelos filhos aos finais de semana, mas no dia a dia sua companheira fiel é a yorkshire Maggie. Com a inatividade profissional e as dificuldades financeiras, os meios de subsistência escassearam. Maria Luiza foi à luta, mas a realidade do mercado de trabalho a assustou. “Primeiro, eu já tinha certa idade. Segundo, o meu currículo me prejudicou: numa entrevista, o gerente me disse que não me contrataria porque, com aquela experiência, eu poderia tomar-lhe o lugar algum dia”, recorda. Diante de tanta dificuldade, a única saída que ela enxergou foi omitir as qualificações que lhe davam tanto orgulho e causavam inveja aos outros. A medida radical lhe rendeu trabalhos em imobiliárias, despachantes e até no comércio, mas nada que lhe garantisse estabilidade. O agravamento da crise financeira brasileira e de seus problemas de saúde (depressão, dificuldade para andar, hipertensão e labirintite) dificultaram sua permanência nos empregos pelos quais passou. Em 2016, ela recorreu à Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo. Tornou-se assistida da entidade, da qual recebe auxilio mensal em dinheiro, cartão-alimentação, auxílio odontológico e medicamentos, que se somam às ajudas esporádicas dos filhos. “Com a aposentadoria que recebo do INSS, pago o condomínio e o IPTU. Com o auxílio da CAASP, consigo comprar meus remédios - que não são poucos -, cuidar dos meus dentes, pagar as contas de água, de luz e me alimentar”, detalha. “A ajuda da CAASP significa muito, percebe? Consigo ter com ela o mínimo de dignidade”, afirma.


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