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ESPECIAL 22 REVISTA DA CAASP Os brasileiros votaram para vereador, prefeito e vice-prefeito no último dia 2 de outubro. No dia 30, votarão em segundo turno para o comando dos Executivos municipais nas cidades em que o resultado não foi definitivo. Indignados com a classe política (28,87% invalidaram seu voto para prefeito), os eleitores tiveram a chance de implementar, pelo sufrágio universal, uma radical mudança de rumos na política brasileira. Será que o fizeram? Infelizmente, a resposta é não. Mudar para valer o modus operandi da política nacional – e desse modo transformar o Brasil – requer identificação entre candidatos e eleitores, ou seja, exige representatividade real, não apenas formal. Entre os perfis dos 485.889 políticos que participaram do pleito municipal e dos 144.088.912 votantes existe um abismo. As candidaturas de jovens, mulheres e negros, que compõem a maioria da população, são gritantemente minoritárias. Não bastasse, são raros os candidatos desses grupos cuja campanha tenha contado com apoio real do partido a que pertencem. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, as maiores parcelas de candidatos por faixa etária estiveram entre 40 e 54 anos, enquanto os eleitores situam-se em maior número entre 25 e 39 anos. As mulheres, que são 52% dos votantes, obtiveram somente 31% das vagas nas chapas, mero 1% acima da cota obrigatória. Assim o TSE classificou os candidatos no item raça/cor: 53% brancos, 37% pardos, 9% outros. Onde estão os negros, que formam 52% da população brasileira conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística? Ressalte-se ainda que em 2.512 municípios do país (45% do total), todos os candidatos a prefeito são brancos. Além disso, campanhas de candidatos brancos arrecadaram, em média, 65% a mais que as de candidatos negros, conforme levantamento divulgado em meados de setembro. Essas discrepâncias podem desnudar uma maneira sorrateira de manter o status quo político. A eleição municipal de 2016 trouxe como novidade principal o fim do financiamento empresarial das campanhas, as quais também ficaram mais curtas. Mas esses fatores não conferiram menor peso ao poder econômico, pois os candidatos ricos usaram e abusaram de doações pessoais em seu próprio nome. A campanha mais curta favorece naturalmente o candidato conhecido de antemão, e mais ainda o que já exerce mandato, que se mantém em campanha permanente em prejuízo da renovação. Paralelamente, com os partidos sem o dinheiro das empresas, ganharam importância os recursos do Fundo Partidário, de fácil manejo pelos caciques que dominam a burocracia das siglas. “O poder econômico vai continuar decidindo as eleições”, sentencia a socióloga e professora da USP Maria Victória Benevides. “O fim do financiamento empresarial foi uma medida saneadora, no sentido de tornar mais igualitárias as chances dos candidatos, mas é preciso que seja consolidada com uma fiscalização mais concreta. A possibilidade de fraudes é imensa e os candidatos ricos continuam com uma vantagem muito grande”, observa. Maria Victória: “o poder econômico continua decidindo as eleições”. Reprodução


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