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Revista da CAASP - Edição 24

Clara, veemente e verdadeira, a escritora senegalesa Fatou Diome afrontou os hipócritas durante debate no canal de TV France2, no ano passado. Estas foram suas palavras: “A União Europeia, com a sua frota da marinha e da guerra, pode resgatar os migrantes no Atlântico e no Mar Mediterrâneo se quiser, mas eles esperam até que os migrantes morram. É como se deixá-los afogar funcionasse para impedir que imigrantes partam para a Europa. Deixem-me dizer uma coisa: isso não vai dissuadir ninguém, porque o indivíduo que está migrando com instinto de sobrevivência, que acredita que a vida que estamos vivendo não vale muito, não tem medo da morte. Senhores, vocês não permanecerão como peixinhos dourados na fortaleza europeia. A crise atual nos diz muito. A Europa não pode se fechar enquanto houver conflitos em outros lugares ao redor do mundo. A Europa não pode mais viver na opulência enquanto houver necessidades não satisfeitas em todo o mundo. Vivemos em uma sociedade global, onde um indiano ganha a vida em Dakar, alguém de Dakar ganha a vida em Nova York e um gabonês ganha a vida em Paris”. A revolta de Diome é plena de razão. De janeiro a julho de 2016 cerca de 3 mil migrantes morreram no Mar Mediterrâneo buscando refúgio na Europa, segundo a Organização Internacional para as Migrações. São famílias que tentam escapar das guerras civis da Síria e da Líbia, de uma Somália desgovernada ou dos contínuos conflitos no Iraque e no Afeganistão. REVISTA DA CAASP 39 Winkler-Bundeswehr Para o professor de Direito Internacional Manuel Furriela, a solução ideal para essa trágica realidade seria resolver os problemas políticos dos países originários dos migrantes. “São polos geradores de refugiados, estados que estão em guerra civil em graus diferentes e que têm governos centrais sem força para organizar o país”, analisa. “Outra possibilidade seria promover um amplo apoio para desenvolvimento econômico dessas nações, para que elas tenham condição de gerar oportunidades de emprego e ascensão social, além de suporte por meio de serviços públicos. Mas chegar a isso é um enorme desafio”, reconhece. Quaisquer das iniciativas mencionadas seriam bem-vindas, e já tardam, até por uma necessidade de reparação histórica. Não se pode esquecer de que políticas europeias em relação ao Oriente Médio são corresponsáveis por vários desses conflitos. “Governos europeus interferiram ESPECIAL Refugiados ficam à mercê dos chamados coiotes e muitos morrem nas águas do Mediterranêo


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