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Revista da CAASP - Edição 24

interesse em que nós tenhamos déficit em conta corrente, pois isso permite, primeiro, que eles exportem mais para nós; segundo, o que é mais importante, porque isso legitima que as empresas multinacionais deles venham para cá, comprem as empresas brasileiras, façam poucos investimentos e ocupem todo o mercado. O que legitima essas multinacionais - das quais em princípio nós não precisamos, pelo menos de grande parte delas - é o dinheiro que elas trazem. Eu estou dizendo que esse dinheiro que elas trazem não interessa ao Brasil, porque implica um déficit em conta corrente pelo qual não temos interesse. Hoje, qual é o objetivo fundamental da política internacional dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, que são ainda os grandes países imperiais do mundo? O que lhes interessa, fundamentalmente, é que as suas empresas multinacionais ocupem os mercados do mundo inteiro, e os seus bancos ocupem os mercados do mundo inteiro, e que todas as questões que surgirem em relação a elas sejam resolvidas nos tribunais de Nova York. Todos esses tratados comerciais que os Estados Unidos assinam é para fazer isso - não é para baixar tarifa, porque a tarifas já estão muito baixas. A quem isso interessa aqui no Brasil? Interessa a todos os populistas. Interessa ao povão para começar, no curto prazo. Interessa à classe média, no curto prazo: toda ela vai para Miami, vai fazer enxoval de noiva em Miami (risos). Interessa, internamente, a uma sociedade em que o populismo cambial, ou, em outras palavras, a alta preferência pelo consumo imediato tornou-se dominante. Os brasileiros devem esquecer de crescimento enquanto continuarem com essa visão, enquanto aceitarem a dominação imperial gostosamente, porque isso lhe permite ter um consumo no curto prazo mais alto do que a renda do país justifica. Globalização não é exatamente fazer compras em Miami, não? Mas a classe média brasileira se sente globalizadíssima com isso, só que o tamanho da crise está aí, e os rendimentos dessa classe média caíram violentamente, ela está em maus lençóis agora, porque esse modelo é insustentável. Esses déficits em conta corrente levam o país a crises cíclicas, inevitavelmente. Falávamos de privatizações. Que regime o senhor considera o mais adequado para o pré-sal? Houve essa loucura que o PT e os demais partidos fizeram com a Petrobras. O sistema de corrupção enfraqueceu muito a Petrobras, então o Império e os liberais domésticos viram uma boa chance para abrir mais espaço para ocupação do nosso pré-sal pelas multinacionais. É isso que está sendo realizado agora, por este governo. 18 REVISTA DA CAASP LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA | ENTREVISTA O QUE INTERESSA AOS EUA É OCUPAR OS MERCADOS E RESOLVER OS PROBLEMAS NOS TRIBUNAIS DE NOVA YORK


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