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Revista da CAASP - Edição 22---

ENTREVISTA \\ “Tínhamos presos políticos, hoje temos prisioneiros sociais” Grampos, perseguições, censura, prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos, assassinatos. Era o Brasil dos Anos de Chumbo, apogeu da repressão sob a batuta do general Emílio Garrastazu Médici. A ditadura militar brasileira fez milhares de vítimas e alguns heróis. Preso e torturado, Idibal Pivetta esteve entre os primeiros; destemido advogado de perseguidos políticos, foi 6 // Revista da CAASP / Abril 2016 alçado ao segundo grupo. Em entrevista ao editor da Revista da CAASP, Paulo Henrique Arantes, Pivetta relata alguns dos terríveis momentos pelos quais passou durante a ditadura, particularmente em 1973, quando foi preso e torturado no DOI-Codi, masmorra comandada pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O advogado conta também como ele e colegas como Belisário dos Santos Júnior, Luiz Eduardo Greenhalgh, José Carlos Dias e outros driblavam os órgãos de repressão para defender “subversivos”. Os militares não se incomodavam apenas com o advogado Idibal Pivetta. O dramaturgo César Vieira também deixava-os com a pulga atrás da orelha. Pivetta teve de mascarar sua outra atividade, a teatral, com o pseudônimo, para amenizar a vigilância da censura. Mas o conteúdo contestador de suas peças o tornou ainda mais visado pelos órgãos de repressão. Ao ser indagado, entre uma e outra sessão de tortura, sobre pertencer ou não a alguma organização de combate ao governo, deu a significativa resposta: “Sim. Pertenço à Ordem dos Advogados do Brasil e à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais”. Aos 85 anos, com sequelas ortopédicas em decorrência dos maus tratos sofridos no DOI-Codi, Idibal Pivetta/César Vieira conversou com a Revista da CAASP em sua casa, no bairro de Indianópolis, Zona Sul paulistana. Na oportunidade, mostrou que conserva a capacidade de indignação de sempre ao apontar o persistente quadro de injustiça social no país e disparar frases como esta: “Os corruptos de hoje não têm medo de mostrar o fruto da sua corrupção”. Revista da CAASP - Como você se sente quando vê brasileiros, em meio a um protesto legítimo e democrático, manifestando-se nas ruas pela volta dos militares ao Poder? Idibal Pivetta – É chocante, apavorante, mas não vejo como algo representativo da vontade brasileira. Deve ter uns 50 ou 60 sujeitos, provavelmente a mando de alguém, com alguma colaboração em dinheiro. Pela pouca densidade, não me assustou muito, não. Não teve a repercussão que os autores desejavam. De qualquer modo, esses manifestantes e muitos outros demonstraram revolta contra a corrupção. Não havia corrupção nos governos militares? Eu acredito que havia, mas talvez não com tanta ostentação quanto hoje. Havia grandes subornos. Teve o Mário Andreazza, que fez a ponte Rio-Niterói, e vários outros nomes envolvidos em escândalos abafados de corrupção. O que ocorre é que os políticos atuais não têm medo de mostrar o fruto da sua corrupção, algo como “eu tenho tudo isso, e não tenho que justificar


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