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Revista da CAASP - Edição 22---

Insere-se aqui a participação do leitor como elemento para a efetivação da obra. São envolventes as histórias mirabolantes de Eco, presentes em seus romances e novelas. Sua inteligência para o enredo e seu espírito investigativo permeiam áreas díspares e, ao mesmo tempo, afins. Em Não contem com o fim do livro (2010), Umberto Eco, juntamente com Jean-Claude Carrière, defendeu a permanência do livro físico, segundo ele, “por motivos estéticos e gnoseológicos” (relativos ao conhecimento). Em entrevista concedida à revista Época, em julho de 2013, Eco relata que se rendeu ao uso do tablet ao fazer uma viagem pelos EUA, em que precisava carregar diversos livros, mas seu braço não permitia tal esforço físico. Ainda assim, perdurou sua opinião de que essas ferramentas são mais indicadas para entretenimento do que para estudo. Eco gostava de riscar, fazer anotações e interferir com as páginas do livro. Sobre o uso da internet para aquisição de conhecimento, Eco pontua não haver uma hierarquia do conhecimento disponível em tal sítio, sendo necessário o uso de um filtro para o próprio bem deste. O escritor sugere que as universidades desenvolvam uma teoria e uma ferramenta que possibilitem a filtragem do conhecimento, uma vez que a internet oferece um excesso de informação, o que pode ser mais prejudicial do que sua falta. Umberto Eco foi velado em Milão, em cerimônia realizada no Castello Sforzesco, principal ponto turístico da cidade e de onde ele conseguia avistar da janela de sua casa. 30 // Revista da CAASP / Abril 2016 \\ *Luiz Barros é escritor e jornalista. Colaborou Neuza Maria de Oliveira “Acusados” Filme estrelado por Jodie Foster ilustra as formas como nos casos de estupro a mulher pode igualmente estar sujeita à violência institucional e legal do sistema estatal destinado a protegê-la. Acusados, filme de 1988 dirigido por Jonathan Kaplan, prende a atenção do espectador. Contando com duas grandes atrizes, Kelly McGillis, em plena maturidade profissional, no papel de procuradora-adjunta, e Jodie Foster, como a vítima da violência sexual, praticada em um bar de beira de estrada no interior dos EUA, o diretor dispôs ainda de um bom elenco coadjuvante masculino e um excelente argumento para retratar o tema. De um modo geral o que se aborda, quando se trata de violência contra a mulher, é o contexto em que se passa o episódio. As atitudes adotadas pelas mulheres, especialmente em redutos considerados essencialmente masculinos ainda no Século XXI, como no exemplo do filme – um bar de beira de estrada –; ou até mesmo em um ambiente familiar, no sentido de ser a casa que abriga a família. A vulnerabilidade feminina aumenta, potencialmente, a depender de quem ali esteja e com que propósito. E essa vulnerabilidade pode se alastrar por inúmeras instâncias ou diminuir até o desaparecimento, na medida em que ela vai precisando da tutela do Estado para o seu acolhimento e também para a defesa e o resgate da sua dignidade como ser humano, até a efetiva reparação da lesão causada à sua pessoa. É disso que trata o filme. Já nos quesitos jurídicos, o filme retrata inúmeras situações que seriam inadmissíveis aos olhos do Direito brasileiro. Uma das situações estranhas ao nosso Direito refere-se ao fato de a procuradora-adjunta, representante da vítima, ter liberdade para fazer acordos com a defesa, inclusive quanto à tipificação da conduta ilícita e a sugestão de pena a ser aplicada aos acusados. Gracenote


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